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A Rebate

Crónica Política

Em matéria de defesa da “res publica”, importa ter a noção da hierarquia de valores, sobrepondo o interesse genuíno da nossa terra ou da região à mera lógica de alinhamento partidária. Somos da Guarda antes de ser apoiantes partidários e até de ser portugueses. Não tem sido esta a regra na Guarda, em que se assumem com dificuldade interesses comuns, quantas vezes preferindo estafarmo-nos em disputas partidárias que só conduzem a vitórias de Pirro…

Vêm estes considerandos a propósito de uma intervenção notável do Dr. Matias Coelho na última Assembleia Municipal, que eu cito com a devida vénia. Dizia este médico sobre o eventual encerramento da maternidade no hospital distrital da Guarda, que está em causa, mais do que a extinção de um serviço, uma possível estratégia de esvaziamento progressivo das competências do hospital da Guarda em favor da centralização na Covilhã, estratégia fundamentada por simples critérios de racionalidade económica. E alertava para a necessidade da opinião pública se dar conta desta realidade, justificando-se, em seu entender, uma mobilização colectiva em defesa dos nossos interesses.

Certo é que esta hipótese de extinção da maternidade nos deixa a todos perplexos! Seja pelo número de partos e mulheres assistidas na Guarda, por comparação com os números da Covilhã, seja pela qualificação técnica do nosso serviço, seja pela inacessibilidade da Covilhã para as populações de localidades remotas, como sejam as de Figueira de Castelo Rodrigo ou de Foz Côa.

Mas, a ter razão o Dr. Matias Coelho, o hospital da Guarda não perde só a maternidade: tenderá a transformar-se numa espécie de extensão do hospital da Covilhã, o que seria, no mínimo paradoxal. Então promete-se construir um novo hospital na Guarda, amputado de valências, sem competência e sem especialidades?

A verdade é que esta ameaça é plausível e, porventura, obrigará a tocar os sinos a rebate…

O segundo caso de necessidade de apelarmos à união supra-partidária é obviamente o das portagens na A23 e A25.

Concorde-se ou não com as portagens. Mas concorde-se que a isenção de pagamento para as populações do interior, seria das poucas medidas verdadeiramente diferenciadoras e verdadeiramente positivas para a nossa região. E devemos ser precisos: como defende o Eng. Crespo de Carvalho, não somos contra as portagens; somos é pela isenção do pagamento da nossa população e das empresas aqui sediadas!

Da importância para a Guarda desta medida, sublinho a ideia que me parece basilar: a isenção do pagamento de portagens seria o maior argumento, se é que existe algum outro com significado, para atrair e fixar empresas na região, tendo em conta a decorrente vantagem competitiva de redução de custos de transportes. Além de que esta vantagem acresceria à da localização geográfica e seria sinérgica com a Plataforma Logística.

São tudo razões para reivindicarmos. Acontece que Lisboa, às tradicionais reivindicações avulsas dos partidos e dos políticos, sobrepõe sempre o inevitável interesse nacional…O que não estou certo de acontecer, caso o interesse regional fosse defendido em uníssono!

Todos cansados de partidarite, talvez esteja criado o ambiente para as forças políticas fazerem “acordos de regime”. Seja como for, é também aos guardenses, e não só aos partidos, que o alerta do Dr. Matias é dirigido. Com consciência colectiva podemos ter a veleidade de contrariar as nossas debilidades. E não seria descabida uma missão a Lisboa, congregando, entre outros, Câmara Municipal, partidos políticos, associações empresariais e cidadãos ilustres, a explicar ao governo que a Guarda existe e também tem opinião!

Por: Rui Quinaz

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