Acontecimentos recentes arrastaram os portugueses para uma gigantesca onda de solidariedade em prol de milhares de vítimas, que, longe do seu horizonte, sucumbiram aos tramas da implacável e cruel natureza.
Provámos quão longe pode chegar a generosidade de um pequeno povo, que apesar de não viver desafogado, sabe subalternizar a sua miséria perante tragédias maiores.
Por essa razão, não deixa de ser irónica a indiferença com que lidamos com casos de singular infortúnio lusitanos. Indiferença que nem mesmo o permanente mediatismo da situação e a sua proximidade parecem contrariar.
Refiro-me ao menino Pedro, cuja infelicidade e seus contornos deixaram há muito de ser um exclusivo da TVI e a notícia diária de abertura do seu jornal da noite, para se transformarem em verdadeiro drama nacional, de que toda a comunicação social se apropriou.
Pedro, um menino aparentemente igual a tantos outros deste país, a quem, a sorte, dotando-o de uma determinação e fulgor impares, haveria de atraiçoar.
Oriundo de uma das famílias mais conceituadas e influentes do nosso tempo, a ela dedicou todas as suas atenções e forças, na esperança de a ver um dia, quando crescido, rendida aos seus domínios.
Sensível ao género mais desprotegido, igual dedicação lhe mereceram as mulheres, todas, sem excepção, com elas partilhando, sem esperar nada em troca, muito do seu precioso tempo.
Estes atributos, públicos e invejados, faziam adivinhar um futuro promissor para o menino Pedro.
O que teria sucedido, não fossem os malfeitores da sua família.
Irmãos, primos e tios, desde cedo rivalizaram com o menino nos destinos da sua abastada família.
Não desistindo ao primeiro tropeção, aguardavam-no provações várias, que, sozinho, foi sabendo superar, para irritação e desconforto da venerada família, que acabaria rendida.
A certa altura, até o mais respeitável e inflexível dos tios, o tio Durão, de abalada para o estrangeiro, lhe deixava confiados os seus cobiçados haveres.
Um legado justo e merecido. Pedrinho, passava a ter uma grande casa com um admirável jardim, repleto de muitas e muitas flores. Contava com um carro enorme e pessoas, muitas, colocadas ao seu dispor, que passaram a conduzi-lo e a acompanhá-lo nas suas viagens e visitas, para que nunca se sentisse só.
E a partir de então – ilusão do Pedro – passaria a ser o dono e o senhor da família e da Herdade dos Portugas.
Não que o envaidecessem, a nova missão ou as novas posses! Pedro, sempre fora humilde e nunca mostrara qualquer apego a bens materiais ou luxos. Só por isso, não lhe fora nunca reconhecida a propriedade de coisa alguma.
Mas, a nova vida não tardaria a trazer-lhe dissabores.
Os seus parentes, os mesmos das rasteiras e atropelos de outrora, e os outros, que julgara de si tão próximos, tratariam de boicotar-lhe a felicidade e o governo que herdara.
Traído, atraiçoado, sovado e espezinhado pela própria família, como o próprio assumiu e testemunhas confirmam, Pedrinho, apercebe-se que está, como sempre esteve, sozinho. E prestes a ser despejado da herdade e desapossado de todas as mordomias e mimos. Que injustiça!
Sendo, por tudo isto, um menino que chora e grita.
Sucedem-se, perante os nossos olhos as imagens deste triste menino. Ouvimos, repetidamente e em directo as sua suplicas e desabafos.
Parecem, contudo, ser insuficientes para nos penetrarem os corações.
O Pedro está só e precisa de si, de nós. Um sorriso, que seja, fá-lo-á sentir-se amado.
Mas, se puder, contribua com mais. Compre o CD do menino, acabado de lançar no mercado – uma iniciativa dos “Trabalhadores do Túnel do Marquês”, e cujas receitas reverterão a favor do Pedro.
Só com o contributo de todos poderá ver-se afastado da violência que o tem rodeado.
Outra possibilidade, infalível, será não votar no menino indefeso, impedindo que regresse, e para que não corra novo risco de maus-tratos.
Tudo para bem do menino… e para nosso bem!
Por: Rita Cunha Mendes