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À procura de novos tesouros no Vale do Mouro

Achados no sítio da Coriscada têm levado os investigadores a reescrever a História da presença romana na região

As escavações arqueológicas no sítio do Vale do Mouro, na Coriscada, concelho da Mêda, têm revelado verdadeiros tesouros. Nos últimos tempos têm sido encontradas milhares de moedas dos séculos III e IV – na semana passada foram descobertas mais cerca de 400. A isto junta-se o bom estado de conservação de muitos edifícios, o que permitirá compreender em detalhe o funcionamento deste complexo. A importância do local é tal que Jorge de Alarcão, um dos maiores especialistas no período romano em Portugal, já admitiu aos arqueólogos que tenciona corrigir as suas teses.

Até agora, as descobertas ligadas à passagem dos romanos pelo interior de Portugal sugeriam que esta era uma região de parcos recursos. No entanto, a casa senhorial onde se descobriu um mosaico de grandes dimensões, os fornos, os lagares, as fundições e as cerca de cinco mil moedas achadas desde 2006 «contrariam a ideia de um Portugal romano pobre nesta região» e sugerem mesmo que se trataria de um território com alguma riqueza, adianta Sá Coixão. As minas de estanho, a agricultura e, em particular, a vitivinicultura – uma actividade que ainda hoje predomina na zona – são pistas que têm guiado aquele arqueólogo na defesa dessa última tese. Outra ideia que cai por terra é a de que aquela zona só fora ocupada pelos romanos a partir do século III. Isto porque foram encontrados, em Junho deste ano, peças de cerâmica do século I. As primeiras sondagens no Vale do Mouro iniciaram-se em 2003, mas os foram interrompidos dois anos depois por falta de verbas. «Este ano as escavações decorrem a bom ritmo, com mais equipas e mais trabalhadores braçais», revela o responsável pelas prospecções.

Nesta quinta campanha – a terceira consecutiva – também há mais arqueólogos e mais de duas dezenas de estudantes das universidades do Porto e de Lyon (França). Recorde-se que há dois anos foi descoberto um painel policromado de minúsculos mosaicos. O achado está a ser restaurado no Museu Monográfico de Conímbriga e deverá começar a ser colocado no local original no próximo mês. «Este mosaico surpreendeu pelas suas dimensões, pois no interior só havia sido descoberto um outro mais pequeno, em Pinhel», refere. Segundo Sá Coixão, no nosso país há outros sítios importantes, «mesmo no âmbito das villas palacianas, mas este está praticamente completo, com as casas, os fornos e os lagares. Será talvez o primeiro local com todos os registos pormenorizados». Por agora, os arqueólogos dedicam-se ao século II, de forma a provarem que houve uma ocupação contínua dos romanos até à Alta Idade Média. Este ano já tinham sido descobertos objectos com sete mil anos, em sílex e quartzo.

Sinal de que existirão cabanas do Neolítico na zona, pelo que será necessário envolver outra equipa, perita nesse período, ainda em 2008. As sondagens nesta área, na direcção de alguns rochedos a Norte, deverão começar até ao final de Outubro. O próximo passo será a escavação das dependências da casa senhorial que tem sido o centro das atenções dos especialistas. Em direcção a Oriente, os profissionais vão procurar uma zona de ferreiros onde esperam «encontrar várias casas dependentes deste palácio», refere Sá Coixão. Os arqueólogos querem ter a maior parte dos achados a descoberto até Setembro de 2009, devendo, entretanto, dar início aos restauros. Nesta fase, os trabalhos são financiados pela Câmara da Mêda e pelo Instituto Português de Arqueologia. Face à dinâmica arqueológica daquela região – com o Vale do Mouro, Marialva, as gravuras do Côa e a torre de Almofala –, Sá Coixão sugere mesmo a criação de um circuito nos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa. Até lá, o arqueólogo garante que «ainda há muito por descobrir» em Vale do Mouro, pelo que os trabalhos deverão ser candidatados aos fundos que a União Europeia disponibiliza para esta área.

Igor de Sousa Costa

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