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À procura da “alma” de uma Feira Medieval

Belmonte organiza evento há oito anos consecutivos

João Monteiro traz a arte nas mãos. Do pai, herdou o ofício e agora o tempo já não volta atrás. Para «não deixar morrer a tradição», coze a pele que há-de transformar em sapato. Ao som de tambores e gaitas de foles, em pleno Largo do Pelourinho de Belmonte, o sapateiro trabalha ao ritmo da gente que passa pela VIII Feira Medieval do Artesão, que se realizou no último fim-de-semana.

É a primeira vez que está na vila, mas no currículo carrega já outros eventos semelhantes: Óbidos, Braga, Santa Maria da Feira e, depois de Belmonte, ruma ao Alentejo. É um veterano nestas lides e, por isso, não teme a sentença: «Esta vila já é medieval por natureza e o cenário ajuda, mas como existem tantas feiras pelo país, acho que esta deveria dirigir-se mais ao artesanato puro, para se diferenciar», adianta. Aqui, a máquina está nas suas mãos. E é esse o caminho que João Monteiro entende que os municípios devem tomar: dar valor ao que é único, artesanal. «Se uma pessoa quiser, eu faço-lhe o chinelo e leva logo calçado, não tem nada a ver com comprar já feito. De uma pele posso fazer tudo: um cinto, uma pulseira, um sapato. Fábrica é uma coisa, artesanato é outra e é isso que as Câmaras têm de perceber e de apoiar», considera.

Embrenhamo-nos nas ruas do centro histórico e, junto ao castelo, encontramos visões semelhantes. Manuel Ferreira vem da vizinha Gonçalo e, como não podia deixar de ser, domina a arte dos cestos de verga. Junto ao seu posto de venda passam milhares de pessoas, mas são poucas as que param. «Se eu estivesse a vender sacos de plástico, tinha mais público, mas como estou a vender arte tenho pouco», lamenta. O artesão acredita que «as feiras medievais têm valor» por darem a conhecer o artesanato, mas para que tenham sucesso é preciso separar “o trigo do joio”. «Quando as pessoas vêm à feira medieval é para comprarem algo com ‘alma’», garante Manuel Ferreira, que participa pela primeira vez no evento belmontense.

A escassos metros ouvimos uma nova língua, um novo país. Virgilio Cuenca vendia sabões artesanais em Espanha, mas decidiu rumar a Portugal na altura em que o “mundo” das feiras medievais estava ainda a florescer por cá. «Agora há muitas e todas parecidas, mas estão a melhorar», sublinha. Do seu produto diz que o confundem com «bolinhos ou queijos» e ele vê-se obrigado a dar uma verdadeira aula sobre sabões, uns para as manchas, outros para a pele. «Qualquer artigo que seja artesanal dá muito trabalho e depois é preciso convencer as pessoas de que merece o dinheiro que pagam por ele», explica ainda. Não muito longe está Ana Vicente, proprietária da Casa do Castelo, restaurante que há muito se habituou aos dias e noites de feira. Participa desde o primeiro ano e da falta de clientes não se pode queixar. «Nem sequer consigo visitar a feira, temos todos os dias a casa cheia», afirma.

Na sua 8ª edição, a Feira Medieval do Artesão acolheu um número recorde de artesãos e barraquinhas. O presidente da autarquia garante que se tem vindo «a apostar na qualidade». E, no futuro, pretende-se que «a feira não se desvirtue, mantendo-a tão genuína quanto possível e dentro de um espaço muito delimitado». Amândio Melo acredita que é preciso «inovar e estar atento à tentação que, às vezes, existe de desvirtuar estes objetivos, porque se assim for perde-se o espírito».

Catarina Pinto Animação de rua encheu Largo do Pelourinho

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