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A problemática do “Interior” do país

O “interior” do país, mais do que um espaço concreto, constitui essencialmente um problema de baixa densidade (de população, de centros urbanos, de atividades económicas, etc.). No entanto, não podemos deixar de lamentar o facto das políticas públicas, implementadas ao longo das últimas décadas, terem concentrado o investimento público nos principais polos de crescimento económico do país, junto ao litoral (à luz da “Teoria dos Pólos de Crescimento”, de François Perroux, 1955), em detrimento de um desenvolvimento harmonioso, e equilibrado, de todo o território nacional. Mas, com este desenvolvimento desequilibrado do território, é o país, como um todo, que fica diminuído na sua capacidade de geração de riqueza e crescimento económico uma vez que estamos a desaproveitar os recursos existentes numa grande parte do território nacional (recursos do conhecimento, recursos humanos e recursos do território).

De qualquer modo, se o objetivo do país é o de garantir a equidade e a coesão territorial, então não se pode deixar nenhuma região para trás. Neste sentido terá de se concentrar os esforços nas regiões mais desfavorecidas, adotando medidas de discriminação positiva para essas regiões.

Mas a região do “interior” não está condenada a viver à custa das regiões mais desenvolvidas do litoral. Com efeito, num contexto de globalização, o futuro das regiões depende cada vez mais da sua capacidade de afirmação a nível internacional. Nesta perspetiva, a região do “interior”, com uma grande centralidade e uma localização estratégica, relativamente à Europa, constitui um território de eleição para a instalação de empresas de vocação exportadora. Além disso, os centros de conhecimento da região, com os seus recursos humanos altamente qualificados, e os seus centros tecnológicos (onde se faz a transferência de conhecimento e tecnologia para as empresas da região), mostram-nos que a região está preparada para competir no âmbito da economia global. Se a tudo isto acrescentarmos os recursos endógenos, a sua História, o seu Património e o “saber-fazer” das suas gentes, ficamos com a certeza que o “interior” dispõe de todos os requisitos essenciais ao desenvolvimento.

Mas, as regiões do “interior” não poderão ficar passivamente à espera que os investimentos apareçam. Pelo contrário, terão de adotar uma postura proactiva, e investir, decididamente, na promoção e divulgação das suas potencialidades para atrair investimento e empresas que permitam a criação de empregos e a fixação de pessoas na região.

António Morgado, Figueira de Castelo Rodrigo, carta recebida por email

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