Era isto que se temia: para que serve um parque urbano novo, grande, agradável, multiusos, bem servido de acessos e com estacionamento que baste, se depois os próprios proprietários parecem esquecer a sua existência? Em qualquer lugar onde imperasse o bom senso, o Parque Urbano do Rio Diz seria visto como o sítio que possui todos os preceitos de excelência para receber uma pista de patinagem no gelo. Tem espaço, tem infra-estruturas e necessita eventos assim, que renovem e diversifiquem a oferta, sob pena de vir a sofrer o efeito da passagem da novidade. Isto seria o lógico, se prevalecesse o interesse público. O ilógico é que se trucide um dos postais do património da cidade com uma cerca de cimento e um coberto de serapilheira, uma cercadura pior que a de um terreiro de baile rural de fim-de-semana, que a Câmara mandou erguer à frente do chafariz de Santo André. Ilógico, lamentável e de um mau gosto extremo, do qual se pensava que estávamos livres desde que retiraram as manilhas e o oleado verde de diante da Catedral. Afinal, conseguiram superar-se: quem chega à cidade pela Avenida D. Amélia é logo desenganado quanto ao conceito estético vigente. E quem olha para os dois lados da rua também fica esclarecido acerca da forma como se faz gestão, por cá: a pista de patinagem na alameda não é uma ideia que faça parte de qualquer agenda ou estratégia de animação; é uma injunção de uma marca que tem loja em frente, ou seja, uma acção de marketing pela qual está o erário público obrigado a suportar uns bons milhares (metade de 27 mil euros declarados como custo do «investimento» mais o consumo eléctrico orgulhosamente proclamado como o equivalente ao «abastecimento de uma pequena cidade»). É mau que um município entre neste tipo de parcerias com privados? Não, pelo contrário. O que é péssimo é que o mesmo município não exerça o papel regulador que lhe cabe na defesa do interesse público e na gestão eficiente dos espaços urbanos. Alguém impingiu o que quis e como quis; e alguém aceitou sem um pestanejo. A isto chama-se, ao contrário do que se possa fazer crer, falta de ideias e de autoridade. E navegação – patinagem, neste caso – à vista. Até pode haver muita gente a calçar os patins na palhoça que construíram na alameda (porque a actividade não é desagradável, nem é isso que está em causa). Com certeza mais gente os calçaria com maior prazer numa pista de gelo no Parque Urbano do Rio Diz, onde pudesse desfrutar de tudo o resto. E até a marca patrocinadora ganharia visibilidade ampliada e seguramente rentabilidade acrescida, se alguém nesta história compreendesse minimamente algumas coisas, entre as quais o conceito de proveitos diferidos. Proveitos para uns e custos para outros: porque os que permitiram isto arriscar-se-iam menos – se tivessem decidido realizar a actividade no espaço adequado de que a cidade já dispõe, pelo qual tantos anos esperou e que até tem frequentado em grande escala – a calçar os patins no mais figurado e perigoso (para eles) significado da expressão.
PS 1 – Quando limparem o terreiro, esfreguem também os graffitis do chafariz.
PS 2 – Não arranjamos mais nada para comentar que uma pista de gelo? Pois – essa é que é essa.
Por: Rui Isidro