Ana Raquel Pinheiro pode não ter a notoriedade de Bruno Borralhinho ou de Filipe Quaresma, mas já tem igualmente um currículo invejável. Com apenas 22 anos, a violoncelista covilhanense soma inúmeros concertos nacionais e internacionais, prémios e cursos de música, nomeadamente em música antiga, enquanto divide o seu tempo a leccionar na escola de Santa Cecília, em Lisboa, e no Orfeão de Leiria. Está ainda a concluir a licenciatura em violoncelo na Escola Profissional de Artes (ESART), do Instituto Politécnico de Castelo Branco, com os professores Miguel Rocha e Catherine Strynckx.
Começou a dar os primeiros passos na música aos 10 anos, altura em que ingressou no Conservatório Regional de Música da Covilhã na classe de piano da professora Paula Ramos, frequentando também as disciplinas de Coro e Formação Musical. A «paixão» entranhou-se, pelo que decidiu mesmo seguir a carreira musical ao optar pela Escola Profissional de Artes da Beira Interior (EPABI), que se encontrava a funcionar na Covilhã há dois anos. «Nessa altura tinha uma paixão por harpa, mas como não havia esse instrumento na escola, optei pelo violoncelo», recorda Ana Raquel Pinheiro. Nunca mais o largou. Há onze anos que anda, literalmente, com ele “às costas” para onde quer que vá, numa verdadeira ligação afectuosa. E apesar de não estar «minimamente arrependida» das opções que tomou até ao momento, a violoncelista não esconde a vontade de «continuar a formação musical no estrangeiro», nomeadamente em escolas da Suíça e França, onde há professores com quem gostaria de aprender. «Esse é um dos meus grandes objectivos, mas ainda não foi possível concretizá-lo», desabafa, lembrando que é necessário ter «alguma disponibilidade financeira», mesmo que ganhe uma bolsa de estudo para o estrangeiro.
«A bolsa tanto poderá ser atribuída num mês como demorar dois anos», lamenta. «Não é que aqui não haja qualidade, porque temos muitos bons professores, mas é diferente. Não é o diploma que interessa a um músico que vai estudar para o estrangeiro, mas a possibilidade de contactar com outros professores, outros níveis de ensino e enriquecer ainda mais a sua aprendizagem», salienta Ana Raquel Pinheiro. De resto, tocar música é a sua «grande paixão» e aproveita os poucos momentos livres para «estudar ainda mais» no seu instrumento. Uma vida dedicada à música que começou na EPABI. «Os dias eram sempre envolvidos em música, de manhã à noite. Aproveitávamos todos os intervalos e a noite para estudar. Éramos uma grande família», recorda, lembrando que nessa altura havia «pouco mais de 50 alunos».
Música barroca preferida
Enquanto os estudos no estrangeiro não se concretizam, a instrumentista vai participando em diversas formações musicais e orquestras. Actualmente integra o quarteto de Santa Cruz (com António Ramos, Clara Dias e o violinista Angel Sampedro), que participou recentemente no Festival de Foz Côa, nas Comemorações da morte de Inês de Castro em Coimbra e no Festival de Música de Segóvia (Espanha). Faz ainda parte do trio de flauta, violoncelo e guitarra Arsis Ensemble, (que tocou no último Festival do Alto Côa), além de tocar música de câmara com a pianista Inês Mesquita. Ana Raquel Pinheiro integra também «regularmente» a Orquestra da ESART, Orquestra Clássica da Beira Interior, a Orquestra Sinfónica da Póvoa do Varzim, bem como as orquestras barrocas Ars Antiqua e de Salamanca. «Gosto imenso de música antiga, principalmente a barroca», adianta, sendo actualmente bolseira do departamento de Música Antiga da Universidade de Salamanca. Nessa área, frequentou igualmente diversos cursos com violoncelistas internacionais e nacionais e, para o próximo mês, tem já agendado cinco concertos em Portugal e Itália com a Orquestra Barroca Divino Sospiro.
No seu currículo está ainda uma participação na Orquestra da Oficina Musical de Curitiba (Brasil), sob a direcção do maestro Osvaldo Ferreira, e em diversos recitais de piano e violoncelo, além de ter sido primeiro violoncelo sob as batutas dos maestros Leonardo Barros, Arnold Allum, Richard Hortien, Osvaldo Ferreira, Angel Sampedro, Ernest Shell, Christopher Bochmann e Manuel Ivo Cruz. Ganhou ainda o prémio de “Melhor Músico da Covilhã” e o segundo prémio na classe B de violoncelo no Concurso de Arcos Júlio Cardona em 2001. Ana Raquel Pinheiro destacou-se ainda ao ser admitida para a banda da Guarda Nacional Republicana. Se tivesse aceite, seria a primeira mulher a integrar essa formação militar.
Liliana Correia