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A obra e o nome

Menos que Zero

No dia 25 de Abril foi inaugurada a Escola Básica Carlos Pinto, na Barroca Grande. Em Junho de 2003 tinha sido inaugurado o Parque de Campismo Carlos Pinto, na Ponte Pedrinha, e no final de 2001 abriu as portas o Cinema Carlos Pinto, no Dominguiso.

Mantendo este ritmo, é natural que no fim do mandato existam no concelho mais três ou quatro infra-estruturas com o nome de Carlos Pinto, pelo que dentro de uns anos as pessoas quererão saber quem foi, afinal, este distinto cidadão covilhanense. Alguns pensarão que foi um rei de Portugal, um destacado navegador ou outra figura histórica nascida da região. Outros dirão que foi um reputado escritor, um conhecido músico ou até um cientista de renome. Aliás, olhando para as várias freguesias do concelho, só Pêro da Covilhã consegue rivalizar com o autarca covilhanense na atribuição do seu nome a infra-estruturas. É pois natural que os nossos descendentes suponham que Carlos Pinto foi uma destacada figura da história portuguesa, o que não é verdade.

Independentemente da obra feita e da vontade das populações agradecerem aos políticos, parece-me um exagero baptizar três estruturas com o nome de um autarca que vai ainda a meio do seu terceiro mandato. Aliás, só conheço situações semelhantes em concelhos onde os presidentes cumpriram seis ou sete mandatos, como o da Maia, ou noutros como o de Marco de Canavezes.

Aliás, sendo natural que as populações queiram homenagear os seus autarcas, seria de bom-tom recuperar alguns nomes que presidiram a Câmara Municipal da Covilhã e que, tal como o actual edil, deixaram a sua marca na cidade. A seu tempo, a história se encarregará de homenagear o actual presidente Carlos Pinto.

Uma reacção exemplar a este tipo de homenagem ocorreu no início do ano, quando o primeiro-ministro inaugurou uma urbanização social em Gondomar. Para sua surpresa, no início da cerimónia Durão Barroso descobriu que tinha sido atribuído o seu nome ao bairro. O primeiro-ministro disse imediatamente não ser merecedor de tal distinção e pediu que mudassem o nome ao bairro.

Ao que consta, também Carlos Pinto fez o mesmo pedido aquando da inauguração do cinema no Dominguiso, mas a veemência do pedido terá sido tão ténue que a atribuição do seu nome a uma obra se repete agora pela terceira vez. Sugiro ao presidente da Câmara da Covilhã que seja mais firme nos pedidos, pois de outra forma o folclórico ameaça tornar-se ridículo.

Por: João Canavilhas

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