Perfil:
– Victor Simões
– Gestor judicial
– Naturalidade: Angola
– Idade: 46 anos
– Profissão: Revisor Oficial de Contas, gestor judicial e professor do Instituto Politécnico da Guarda
– Hobbies: Leitura técnica e pesca
P-Está prestes a terminar um dos processos de recuperação mais complicado dos últimos anos na Covilhã…
R- Sim, é complicado porque era uma empresa estruturante para a Covilhã em termos do seu valor acrescentado para a economia e do número de trabalhadores. O processo arrastou-se porque havia mais do que um interessado e as competências para a viabilizar são da responsabilidade dos credores. Creio que toda esta demora se deve ao facto de ter havido propostas alternativas e os credores terem sempre a perspectiva de conseguirem as melhores condições materiais.
P-Tendo em conta os sucessivos adiamentos, houve alturas em que julgou que o processo iria caminhar para a falência?
R-Sou uma pessoa optimista. Este processo não tem sido fácil, mas tenho esperança que se consiga um encontro de interesses e ideias no acordo com os trabalhadores que o possam fazer avançar.
P-Acredita que é possível chegar a acordo com os trabalhadores?
R-Gostaria de acreditar e estou esperançado que isso seja possível. Neste momento, o sucesso ou insucesso de todo este trabalho depende do acordo que venham a firmar.
P-A Nova Penteação tem condições para ser viabilizada?
R-É uma empresa razoavelmente apetrechada do ponto de vista tecnológico. Com um empresário que tenha capacidade de gestão, capacidade financeira e comercial, creio que a empresa poderá vir a ser o que foi no passado, mas obviamente com outra imagem. Acredito que poderá vir a ser novamente uma grande empresa.
P-Teve nas suas mãos o processo da Carveste. Qual a diferença entre a Carveste e a Nova Penteação?
R-Foi um processo gratificante do ponto de vista profissional, pois foi muito rápido. A Carveste não fica nada atrás da Nova Penteação no número de trabalhadores. Na altura da recuperação tinha 400 trabalhadores (que mantém agora) e a “Nova” tem 460, por isso a diferença não é substancial. A Carveste foi viabilizada com uma proposta de gestão controlada apresentada pelo gestor judicial e aprovada com uma percentagem muito significativa da maioria dos credores. A viabilização da “Nova” poderá decorrer se as negociações correrem bem no processo de aquisição por um terceiro. A Carveste foi um processo que decorreu e ainda decorre dentro da mesma estrutura accionista, basicamente com a mesma equipa de gestão mas com um plano de gestão controlada a longo prazo que permitirá à empresa continuar durante largos anos. Neste momento, a empresa está a trabalhar muito bem, com muitas encomendas e julgo que teremos Carveste para muitos anos.
P-Que funções tem um gestor judicial?
R-O gestor judicial é um intermediário entre os interesses de todas as partes da empresa e faz o relacionamento com o tribunal. Também lhe compete apresentar medidas de viabilização para a empresa, o que só é possível quando a empresa tem pernas para andar por si só.
P-Disse que este trabalho é gratificante, mas nem sempre isso acontece?
R-São ossos do ofício. Tive poucos processos (de grande dimensão), mas tenho tido a felicidade de encontrar soluções de viabilização em quase todos os processos, o que é muito bom em termos profissionais, mas também para os trabalhadores e para a região, que precisa de empresas com vigor, capacidade comercial e exportadora.
P-O sucesso deve-se ao gestor judicial?
R-De maneira alguma. Deve-se sobretudo aos credores. Não há nenhum processo de recuperação que possa ser viabilizado se os credores não o quiserem. Têm que ser desenvolvidas as negociações e captadas as sensibilidades destes no sentido de defender os seus interesses, mas defender efectivamente os interesses da empresa.