O Centro de Estágios de Alta Competição da Guarda parece, cada vez mais, um projecto que dificilmente virá a ser concretizado, pelo menos nos tempos mais próximos. Ainda na semana passada, Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, esteve na Guarda e afirmou desconhecer por completo o projecto. Confrontado com esta resposta, Joaquim Valente, presidente da Câmara da Guarda, considera que o governante «tinha a obrigação» de se mostrar mais conhecedor do processo.
À margem da inauguração da loja “Ponto Já” da Guarda, dedicada à juventude, quando questionado sobre a evolução do Centro de Estágios de Alta Competição, Laurentino Dias fez uma revelação surpreendente: «Não encontrei a gaveta onde está o projecto de que me fala. Acho que nós devemos falar claro. Não encontrei e não conheço», sublinhou. Por outro lado, o secretário de Estado adiantou que tem agendada, «para breve», uma reunião com o autarca da Guarda onde serão abordadas «coisas que interessam à Guarda em matéria de desporto e de juventude e nessa altura, provavelmente, falaremos desse assunto», afirmou. De resto, Joaquim Valente não se mostrou nada satisfeito com as declarações de Laurentino Dias, afirmando que o governante «tinha a obrigação de conhecer o protocolo que existe e que foi assinado em 1999» pelo actual primeiro-ministro José Sócrates. As declarações de Laurentino Dias provocaram algumas reacções negativas, nomeadamente por parte da Distrital da JSD da Guarda que, em comunicado, pergunta «quem mente? Os vários e sucessivos executivos socialistas da Câmara da Guarda ou o actual secretário de Estado da Juventude e do Desporto?».
Continuando o seu rol de críticas, os jovens sociais-democratas realçam que o novo presidente da autarquia da Guarda, «bem como outro dos vereadores do actual executivo, fizeram parte dos executivos que em tempos anunciavam aos quatro ventos, que a cidade da Guarda teria em breve o tão propalado Centro de Estágios de Alta Competição», prosseguem. Deste modo, a concelhia da JSD exige que o actual executivo venha esclarecer este «triste episódio que em nada dignifica a política, nem os políticos, que, afinal, muito prometem em tempo de eleições e constata-se depois que são apenas promessas para poderem chegar ao poder», acusam. No entanto, este é um processo que não tem sofrido qualquer evolução, mesmo com mudanças de Governo, já que também Hermínio Loureiro, ex-secretário de Estado da Juventude e dos Desportos nos executivos PSD-CDS, deu a entender, em Dezembro de 2003, que o projecto do Centro de Estágios da Guarda não era prioritário. Na altura, o governante sublinhou que a «prioridade absoluta» era haver um «excelente» Centro de Alto Rendimento no Complexo Desportivo do Jamor, em Lisboa.
«Temos que ter a noção clara do país que somos e, relativamente à questão da alta competição e do desporto de alto rendimento, temos ainda um longo caminho a percorrer», disse, frisando que o «tempo da ilusão e do prometer tudo a toda a gente já lá vai». Assim, só depois do Centro de Alto Rendimento de Lisboa estar a «funcionar em boas condições» é que o Governo poderia mostrar-se aberto a «equacionar» o apoio a outras estruturas e a «estudar as melhores soluções». Recorde-se que o projecto final do Centro de Estágios guardense, que ficou orçado em seis milhões de euros, contempla, para além da unidade de alojamento, a construção de cinco campos de ténis, três relvados de futebol, um deles com pista de atletismo de oito corredores, uma piscina olímpica, um pavilhão multiusos e ainda percursos pedonais e de bicicleta.
Ricardo Cordeiro
