Hoje é o dia. Dia 13. Quinto mês. Maio. 13 de Maio. O meu maior temor era algum dia escrever um artigo que saísse num jornal com esta data impressa na capa. É público o meu agnosticismo. É conhecido o meu cepticismo. Desconfio das aparições mesmo quando elas são relatadas em livro por filhas de comediantes muito conhecidos. Mas e se Pascal tinha razão? Se Deus não existir, perde-se alguma coisa por acreditar? Sem ser tempo? Ou dinheiro para as igrejas? Ou manhãs de domingo na cama? A angústia acumula-se. Por sua causa, um tipo não-crente tem insónias muitas vezes e nem café ou Red Bull ajudam a adormecer.
O pior na falta de fé é não ter ninguém a quer atribuir as culpas. Principalmente os ateus e agnósticos de direita. A esquerda ainda pode culpar este governo (ou todos, se for gente do PCP ou do BE), o capitalismo, o liberalismo, a globalização e a fraca qualidade da carne de porco nos hipermercados. A direita ou não consegue ou as mães não deixam. Em casos extremos, há mesmo quem se responsabilize a si próprio pelos erros cometidos.
Pergunto-me desde sempre qual será a melhor abordagem para enfrentar a minha relutância em acreditar que a mãe de Jesus se lembrou de aparecer em cima de uma árvore, numa aldeia perdida no meio de Portugal, para falar com três crianças analfabetas que por ali acompanhavam os rebanhos que lhes haviam confiado. A resposta é esta: não faço ideia. Sabemos que não foram só os pastorinhos a ver as aparições. Mas também no governo de António Guterres todos os ministros diziam ver dinheiro nos cofres do Estado quando na realidade já lá não estava. Várias pessoas presentes na Cova da Iria testemunharam uma luz intensa e uma série de fenómenos meteorológicos anormais. Claro que não sei explicar isto, mas este mês de Maio também tem chovido muito e feito mais frio do que o normal e não consta que Cristina Mohler tenha voltado a apresentar o tempo na SIC. Também não creio na tese do OVNI. Por uma razão simples. Se não é líquido que Maria se preocupasse com o Ribatejo em tempo de 1ª Guerra Mundial, é provável que o interesse dos extra-terrestres pela pastorícia fosse ainda menor.
Tenho portanto um problema. A minha descrença em divindades abrange também visitas à Terra de pessoas que já morreram e convites de nórdicas lésbicas para jogos sexuais. A peregrinação de milhares de pessoas a Fátima pode ser uma óptima oportunidade para os portugueses exercitarem os músculos das pernas. Pode ser também um bom momento de convívio, embora se desaconselhem jogos colectivos com bola durante as cerimónias religiosas. O xadrez e o dominó são opções válidas e a possibilidade de jogar partidas múltiplas pode ainda ser encarada pelos fiéis mais afoitos. Curiosamente e apesar de tudo isto, chega até a haver pessoas ali presentes apenas para expressar a sua fé e prestar culto à Virgem. Quando podiam ter ficado em casa a ver Merche Romero ou Sónia Araújo na televisão. Fanatismos.
EU UM ORNITORRINCO
Diogo Freitas do Amaral
Conhecido na gíria por Prof. Palhinhas, o eterno ex-, ex-futuro e futuro ex-candidato a Presidente da República, veio criticar o governo e a Assembleia da República por não avançarem rapidamente com as reformas apontadas num estudo por si realizado. Se calhar é desperdício de dinheiro pedirem-se sugestões a uma equipa de peritos para depois os políticos andarem meses e meses com elas. O melhor era começar a escolher directamente comissões que elaborassem dossiers e acabar de vez com deputados e governos eleitos. É o Prof. Palhinhas à procura de refúgio no viveiro do Bloco de Esquerda – um habitat natural de ornitorrincos puros.
Por: Nuno Amaral Jerónimo