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A Medíocracia ou a Vitória dos Ratos

« Na política já conheci verdadeiros senhores, bons homens e palhaços. Existe de tudo. Mas para estar na política, hoje em dia, é quase sempre preciso descer ao nível de uma larga maioria de gentinha medíocre…e ao nível deles, ganham sempre, porque têm mais experiência em política suja. Repito, a política não é por si só uma arte nobre, a nobreza só vem – ou não – de quem a exerce. Mas quando os gatos se demitem desta lixeira… deixam, infelizmente, campo para a vitória dos ratos!»

Não confundir com Medio-cracia – o poder pelos media (a comunicação social). Medíocracia é mesmo o poder pelos medíocres. A política não é por si só uma arte nobre, a nobreza só vem de quem a exerce. E a política tornou-se abominável nas mãos de uma classe política sem valores. E já tinha alinhavado este texto, quando leio no Expresso o “grito de alerta” de Cavaco Silva, afirmando que existe “uma certa degradação da qualidade dos agentes políticos em Portugal, da sua credibilidade, competência e capacidade para conduzir os destinos do país”, o que tem vindo a contribuir para “o afastamento crescente das elites profissionais, dos quadros técnicos qualificados da vida político-partidária activa”. O ex-primeiro ministro vai mais longe e apela aos “políticos competentes” para afastarem os “incompetentes”.

Cavaco Silva aponta ainda um dos grandes entraves, sublinhando que o motivo mais forte para o afastamento das elites é a ideia de que nos dias de hoje “o mercado político-partidário não é concorrencial e transparente, de que existem barreiras à entrada de novos actores, de que não são os melhores que vencem porque os aparelhos instalados e os oportunistas demagógicos não olham a meios para garantir a sua sobrevivência nas esferas do poder”.

Cavaco Silva, talvez pelo seu distanciamento, revela lucidez na apreciação que faz. E é óbvio que as suas palavras têm um forte peso e deixam uma marca indelével na sociedade e na política portuguesas.

Na minha modesta contribuição, tenho vindo a alertar para este mesmo tema nesta coluna de opinião. Falei da falta de valores em “os homens de cortiça”, da falência da democracia representativa em “mediocarcia” e da hipocrisia do discurso político em o “governo wonderbra e o tocador de flauta”.

É de facto preocupante que as pessoas válidas, competentes e com valores, tenham receio de entrar na arena política. Existe de facto, uma falta de educação permanente, uma falta de honestidade intelectual abominável e sobretudo, uma latente falta de inteligência na grande maioria dos agentes políticos. E as novas gerações de políticos, vêm já domesticadas nos mesmos erros de forma, afectadas com os mesmos vícios, mal-formadas que estão, nas lutas de corredores dos aparelhos partidários.

Na política já conheci verdadeiros senhores, bons homens e palhaços. Existe de tudo. Mas para estar na política, hoje em dia, é quase sempre preciso descer ao nível de uma larga maioria de gentinha medíocre…e ao nível deles, ganham sempre porque têm mais experiência em política suja. Repito, a política não é por si só uma arte nobre, a nobreza só vem – ou não – de quem a exerce. Mas quando os gatos se demitem desta lixeira… deixam, infelizmente, campo para a vitória dos ratos! É preciso mudar esta realidade. É preciso aceitar os desafios, as lutas.

Olhem à vossa volta….quem é que está no poder? Sentem-se orgulhosos de quem vos representa? É tempo de intervir na política para defender os políticos válidos, que ainda têm uma honesta convicção no bem público – e ainda existem muitos. E é preciso entrar na política para, como apela Cavaco Silva, afastar os “incompetentes”. Todos somos chamados a este combate. Convocados para o nosso dever cívico, é hoje uma imperiosa e urgente obrigação dizer “presente”!

Por: João Morgado

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