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A Maria de Lurdes Reis Rodrigues

A mulher d’aldeia, mais que muitas outras, era diminutiva, mas passava o tempo a rezar o terço. Era firmemente religiosa e “amava a Deus sobre todas as coisas”, mas, no fundo, insociável. Na aldeia, as outras mulheres iam e vinham para a/da missa em grupos, natural, obviamente gregárias, mas ela ia e vinha sozinha. Quando lhe faziam ver que “amar a Deus sobre todas as coisas”, mas não amar ao próximo era um absurdo, exasperava-se. As suas origens sócio-culturais ressumavam limitações d’antanho, vero desafio para qualquer digno para quem a visualização do futuro é um irrenunciável imperativo.

Em suma: tratava-se, ademais, de uma insuperável paranóia.

Quando, do denominado Ministério da Educação, sai o termo “professorzecos”, as grosserias de Valter Lemos são um dado adquirido e a atitude, há dias tomada por este, em Viseu, frente a dezenas de professores que o vaiavam, não merece qualificação, ao que acrescem afirmações contraditórias da que passa por ser ministra, etc., etc, etc., somos levados a alguma perguntas – não sem antes declarar que os Correos de España, no ano transacto, ao menos para o correio intra-UE, emitiram um selo, aliás artístico, que era uma Homenaje al Maestro. Não sem antes declarar, ainda mais, que é consabida a afirmação, por parte da que passa por ser ministra, de “perdi os professores, mas ganhei a população”.

O que está em jogo, nesta tragédia que é a actividade do tal dito ministério que passa por ser da Educação, é incomparabilissimamente mais que o futuro de Portugal. Sim, sim, o leitor não tenha quaisquer dúvidas. O embondeiro não se dará na Finlândia; e a árvore da taiga russa não medrará na savana africana. Quero, simplesmente, dizer que a Educação em Portugal será uma concreção da nossa idiossincrasia, lato sensu, virada para o futuro. Lato sensu porque a grandeza do Egipto, da Grécia, das Humanidades, da Espiritualidade tradicional e do viril esforço científico ao longo dos séculos, com tudo o que isso representa de tesura, de mérito é que têm que enformar um lídimo Ministério.

…Somos levados a algumas perguntas. Quais são as origens sócio-culturais de Maria de Lurdes Reis Rodrigues? Antes de ser “ministra”, era uma figura conhecida na área do Humanismo? Que obras publicou que a creditassem? A sua postura alguma vez foi a de uma aristocrata (etimologicamente falando)? (Esta pergunta passa ao lado da tautologia, porque é o sentido da Vida, do ser-se humano, que está em causa; e quem “alguma vez foi rei jamais perderá a majestade”). Quem a indicou para ser ministra? Que conhecimentos tinha este para ser influente? Dir-me-ão que um dado crucial para conhecer Sócrates – não o filósofo, claro – é ler o que ele, em tempos, escreveu no conspícuo “Jornal do Fundão” atacando Carlos Pinto, Presidente da Câmara da Covilhã; e que uma mulher tão respeitável como Helena Matos, demonstra, no “Público”, que não passa de um pobre-diabo impostor. Então Sócrates – não o que “sabia que não sabia”, claro – é… que dimensões tem?

Ao lutarem virilmente contra esta afronta que certo tipo de cidadão julga ser uma avaliação, os professores afirmam-se como seres egrégios em quem a Pátria (sou genuinamente cosmopolita) pode e deve confiar. São os prospectivos por excelência. Que o professor de Educação Física que escreve a lápis ou outros lacaios (?) políticos que não alcançam a nobreza da sua missão (a Fenprof dizia, há dias, serem 45 os que integram a bancada “socialista”) estejam do outro lado… sem comentários.

E, há que dizê-lo à que passa por ser ministra, eu não fui a Lisboa juntar-me aos 100000, porque tinha três turmas de pontos para corrigir. Prudência, portanto, na boca da senhora. Mais. No seu rosto está uma perplexidade insolúvel. E faz-me lembrar não só a mulher d’aldeia acima referida, como o pai ufano que, em Mafra, num dia de juramento de bandeira, ao ver o filho cadete desfilar, disse para mulher: “É espantoso! O nosso filho é o único que leva o passo certo”.

E como pode um General, pelas suas tropas desprezado, ir onde quer que seja? E que entende por Educação? E qual o seu paradigma? Perdoe-me o plebeísmo da expressão, Exma. Senhora: eu estava-me absolutamente nas tintas para quaisquer apoios que tivesse se o que suscitasse fosse uma aversão profunda.

“A grandes males, grandes remédios”. Por mim, estou seguro que a perplexidade do seu rosto se transmutaria em vitória. Naturalmente que lhe desejo as maiores felicidades pessoais.

Guarda, 2-IV-08

Por: J. A. Alves Ambrósio

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