P- O que está a acontecer no rio Noéme neste momento?
R- O que está acontecer agora é o mesmo que acontece há muitos anos – descargas poluentes na localidade da Gata, freguesia de Casal de Cinza, concelho da Guarda, nos últimos 500 metros do rio Diz, afluente do rio Noéme.
P- De quem é a culpa?
R- Em agosto de 2013 a Quercus enviou um ofício à empresa Manuel Rodrigues Tavares a questionar quando estava previsto o encaminhamento dos efluentes líquidos da fábrica para a ETAR de S. Miguel e quais os procedimentos que estavam a ser tomados para que o efluente industrial tivesse características idênticas às de águas residuais domésticas. Após três ou quatro meses de ausência de resposta deslocamo-nos diretamente à fábrica para tentar obter alguma resposta. Fomos informados por um dos responsáveis da empresa que a responsabilidade de resolver o problema não era deles mas da Câmara Municipal da Guarda, justificando que tinham uma licença para descarga do efluente industrial num coletor municipal.
P- O que falta fazer?
R- Encaminhar o efluente industrial pré-tratado na fábrica para a unidade de tratamento, uma vez que a estação elevatória e as sondas necessárias já estão instaladas.
P- Perante a continuidade do problema o que é que a Quercus vai fazer?
R- Penso que o correto é perguntar o que é que a Câmara da Guarda e a fábrica Manuel Rodrigues Tavares vão fazer. Foi isso que questionámos no passado 16 de fevereiro.
P- Lançaram este alerta na última semana, já obtiveram respostas por parte da câmara e da empresa?
R- A Fábrica contactou-nos no dia 19 de fevereiro estando prevista uma reunião esta semana.
P- E o que fazem, ou já fizeram, as autoridades com responsabilidades nesta área?
R- Muito pouco. Em 2013 deslocámo-nos com uma equipa do SEPNA/GNR ao local das descargas e pouco tempo depois recebemos uma comunicação a dar conta do levantamento de um auto de notícia por contraordenação encaminhado para a Administração da Região Hidrográfica do Norte da Agência Portuguesa do Ambiente (ARH/APA). A única resposta que recebemos desta última entidade dizia que o problema teria resolução naquele mesmo ano. Situação que não se veio a confirmar. Já em 2014 demos conhecimento da situação à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) e ao Ministério Público. Da IGAMAOT recebemos duas respostas iguais com intervalo de mais ou menos seis meses a informar que estavam a efetuar diligências junto da ARH/APA. Do Ministério Público nunca recebemos qualquer resposta mesmo com insistências da nossa parte.
R- Perante esta situação acha que a despoluição do rio Noéme é uma miragem?
R- A manterem-se as descargas poluentes a resolução do problema será certamente uma miragem.
Perfil:
Presidente do Núcleo Regional da Guarda da Quercus
Idade: 28
Naturalidade: Guarda
Profissão: Engenheiro do Ambiente
Currículo: Dirigente do Núcleo Regional da Guarda da Quercus desde 2009; Tesoureiro da Direcção Nacional da Quercus de 2012 a 2015; Presidente do Núcleo Regional da Guarda desde 2013 e um dos promotores do projeto GPellets (2014)
Livros preferidos: “Repensar a economia”; “Walden ou a vida nos bosques”; “O sentido do outro”
Filme preferido: “Um funeral à chuva”
Hobbies: Caminhar sem destino
