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«A luta continua»

Misericórdia quer preservar edifício, responsáveis políticos prometem não desistir do novo hospital

A Santa Casa da Misericórdia de Seia não gostou de ouvir Luís Filipe Pereira anunciar a remodelação do edifício mais antigo do hospital Nossa Senhora da Assunção sem antes ter falado com os proprietários. Fernando Beco, vereador do PSD na autarquia e provedor recém-eleito da instituição senense, dona do imóvel, lamentou a atitude do ministro e já disse que não concorda com a intervenção. Quem também não vai desistir de ter um hospital novo são os principais responsáveis políticos da cidade, para quem esta não é uma «óptima solução» para Seia. A luta continua, garante Eduardo

Brito, presidente do município, que apelou a que «não se repita a desunião que acontece na Guarda» por causa da localização do futuro hospital.

As declarações do provedor da Santa Casa da Misericórdia caíram que nem uma bomba no clima de consternação que se seguiu à visita do governante. Fernando Beco disse que a instituição quer preservar o imóvel e recordou que se o edifício «não está bem» para resolver os problemas do hospital, pode vir a ter outras funções no seio da Misericórdia.«Está em óptimo estado para outras finalidades», invocou o responsável, não querendo pactuar com a «destruição de um edifício histórico de Seia, que é um património valioso de quase cem anos para a instituição e o concelho, para se fazer um edifício novo». De resto, o provedor, eleito na semana passada, recusa-se a «ser encostado à parede» com o anúncio sem aviso-prévio do ministro, sublinhando que poderá haver «outras soluções, se calhar tão onerosas como esta e com mais vantagens para todas as partes». Entretanto, Fernando Beco revelou na reunião extraordinária do executivo, realizada na última sexta-feira, que a instituição está disposta a negociar a cedência de terreno nas imediações do Nossa Senhora da Assunção para preservar o imóvel.

Solução «questionável»

No plano político, Tenreiro Patrocínio, vereador social-democrata [cujos elementos regressaram ao executivo depois de terem suspenso o mandato até ser conhecida a decisão do ministério], foi o primeiro a demonstrar o seu desapontamento pela solução apresentada por Luís Filipe Pereira: «Acho que não é uma óptima solução, nem é a melhor. Antes pelo contrário, é questionável do ponto de vista da aplicação dos dinheiros públicos, porque o edifício e terreno pertencem à Santa Casa da Misericórdia e fazer obras em coisas alheias não será a melhor opção. Mas é evidente que ainda vai correr muita tinta», avisa. Uma opinião partilhada por Eduardo Brito, que defende que «ninguém deve desistir» do novo hospital, não sem antes apelar ao empenho dos social-democratas para que este objectivo «fulcral» para Seia possa vir a concretizar-se. Humberto Mota Veiga, deputado municipal da CDU e elemento do movimento cívico, já disse de resto que a «pressão» vai continuar, porque «um qualquer remendo na situação existente não resolve o assunto». Nesse sentido, os contactos irão ser retomados em Janeiro, nomeadamente com a nova administração do Nossa Senhora da Assunção.

Para a concelhia do PCP, o «compromisso» de Luís Filipe Pereira é de «duvidosa viabilidade, levanta algumas interrogações e faz gorar muitas das expectativas criadas pela população e pelos utentes relativamente à construção de um novo edifício, expectativas essas fomentadas pelas promessas assumidas pelo PS e PSD». Pelo que a luta continua. Por sua vez, Pina Moura, deputado socialista na Assembleia da República, ironizou: «Ficou claro que esta remodelação vai conduzir não a um novo hospital mas a um hospital novo», disse, considerando «meramente académica» a hipótese de um novo edifício para 2013. «Temos que esperar para ver, mas é absolutamente necessário discutir em concreto o que será a remodelação do hospital, que novas valências, a capacidade de instalação e de serviços», refere, realçando o «incumprimento» da promessa eleitoral do PSD nas últimas autárquicas e legislativas.

Helena Figueiredo será directora clínica

Como também há uma «contradição de política» em relação ao que está a ser planeado para a Guarda. «Aqui opta-se pela remodelação quando o actual Governo abandonou o projecto de melhoria imediata do Sousa Martins por uma quimera para 2011 de um novo hospital, que, sinceramente, não é a melhor opção para a população da Guarda», refere Pina Moura.

«No hospital da Guarda também há grande degradação de instalações e de serviços, mas essa opção foi travada», recorda, dizendo-se nada interessado na conversa de que o caso de Seia poderia ter sido resolvido no anterior Governo e nos predecessores. «Com este tipo de argumentação poderemos mesmo ser levados ao início da nacionalidade. É melhor, de uma vez por todas, darmos por assente o que está e actuar sobre essa realidade para se transformar num sentido melhor», defendeu. Em contra-ciclo, José Luís Vaz, novo presidente do Conselho de Administração do hospital, está «muito satisfeito» com a solução «no imediato», uma vez que o ministro falou «num hospital moderno, que é aquilo que as pessoas querem. Não é concerteza um hospital totalmente novo, mas a solução de esperar até 2010 não se compadeceria com o que estamos a viver em condições infra-humanas», sublinha. Entretanto, Maria Helena Figueiredo deverá ser a nova directora clínica do Nossa Senhora da Assunção, enquanto João Emílio Silva Coelho será reconduzido na função de enfermeiro director.

Luis Martins

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