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«A investigação pretende ajudar a fomentar uma atitude e pensamento empreendedores nos jovens designers de moda»

Cara a Cara – Clara Fernandes

P – É a primeira estudante do país a apresentar um doutoramento em Design Moda. Em que consiste a tese que desenvolveu?

R – A minha tese intitula-se “The Fashion Design Entrepreneur: Skills and Solutions to create a Fashion-related Business” e é um trabalho que destaca  a necessidade de apostar no empreendedorismo na área do Design de Moda, não só ao nível do ensino, mas sobretudo depois de terminada a formação académica. Um dos aspetos mais importantes que foi detetado na investigação prende-se com a verificação da falta de conhecimentos empreendedores, ou seja, que realcem as competências do designer de moda enquanto criador de produtos ou coleções de moda. Por outro lado, verificou-se que esta é uma área onde ainda faltam apoios que permitam aos estudantes recém-formados criar os seus projetos, as suas marcas e negócios. Outra das conclusões mais relevantes prende-se com o facto de se poder criar uma plataforma onde os empreendedores possam encontrar informação específica sobre a área, conectar-se com diferentes profissionais da Indústria Têxtil e do Vestuário, mas também especialistas da área dos negócios. 

P – Qual é a aplicabilidade desta investigação na indústria?

R – A investigação pretende ajudar a fomentar uma atitude e pensamento empreendedores nos jovens designers de moda, tendo em conta que são cada vez mais os estudantes que, depois de terminarem os seus estudos, procuram dar resposta aos problemas do mercado através da criação do seu próprio negócio. Espera-se ainda que esta investigação possa contribuir para a evolução do sector, na medida em que realça a importância que o ensino tem e pode ter para a formação de jovens designers empreendedores. O perfil do designer de Moda empreendedor é algo que a indústria deve procurar porque estes são capazes de tornar um problema em oportunidade de negócio, como também trabalhar de forma criativa, inovadora e sempre procurando a criação de valor; características que são indispensáveis para vencer numa indústria cada vez mais competitiva.

P – É profissional ou apenas investigadora?

R – Sou investigadora e docente na Universidade da Beira Interior desde 2015.

P – No âmbito da sua tese foi criada uma plataforma online. Qual é o objetivo e o que é que acrescenta ao setor?

R – A falta de apoios e informação que permitam a criação de negócios, numa área tão específica como o Design de Moda, começou de certa forma já a ser colmatada. Uma das propostas do trabalho passa precisamente pela criação da plataforma Hoop (www.hoop-portugal.com), cujo objetivo é dar resposta às necessidades realçadas pelos estudantes inquiridos, mas também pelos profissionais e criadores da área, entrevistados no decorrer do trabalho. A criação desta plataforma, ainda que numa versão beta, é o primeiro passo dado no sentido de aplicar os resultados obtidos e assim contribuir, ainda que de forma modesta, para o desenvolvimento do empreendedorismo na área do Design de Moda.

P – Como vê o setor têxtil neste momento em Portugal?

R – O setor da moda tem vindo a crescer no país, principalmente nas exportações de produtos com alto valor acrescentado, ao que tem correspondido a procura de quadros capazes de dar resposta a este crescimento. Em Portugal (que não é um caso único), as empresas não têm capacidade de captação para todos os recém-formados da área e é nesse sentido que é importante a aposta no empreendedorismo. O papel das instituições de ensino (neste caso em particular da UBI) é portanto fundamental, na preparação destes futuros profissionais que terão que enfrentar um mercado cada vez mais competitivo e desafiador. Acredito que este é um setor que vai continuar a evoluir, mas que precisa de estabelecer parcerias entre as instituições de ensino e as empresas para o desenvolvimento de uma rede empreendedora de Design de Moda, que permita a criação dos projetos e empregos do futuro.

Perfil:

Docente no Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI

Idade: 29 anos

Profissão: Docente no Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI desde 2015

Currículo: Doutoramento em Design de Moda; trabalhou na Follow Inspiration, Paladar Sublime e SuMisura, e atualmente é assistente convidada no Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da UBI

Naturalidade: Francesa (mudou-se para Portugal aos 19 anos para tirar a licenciatura em Design de Moda e acabou por ficar)

Livro preferido: “Zadig”, de Voltaire, entre muitos outros

Filme preferido: “Fury”, de Fritz Lang, entre muitos outros

Hobbies: Design gráfico, videografia, ténis, squash e badminton

Clara Fernandes

Sobre o autor

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