Há uns anos um jornalista inglês escreveu um livro intitulado A Indústria do medo. Relatava uma série de pestes e epidemias anunciadas com grande alarido pela comunicação social, que supostamente iriam ceifar a vida a milhares de seres humanos mas que, afinal, nunca passaram disso mesmo, de anúncios. Por exemplo, a respeitável revista The Economist previa em 1983 que a Sida, só na Europa, provocaria entre 40 a 50 milhões de mortos. Não provocou. Mais recentemente, foi o vírus popularmente conhecido como a doença das vacas loucas que aterrorizou os incautos. Parece que comendo carne o nosso cérebro ficaria feito ao bife. Não ficou.
Está provado que a indústria do medo vende bem. As próprias criancinhas adoram histórias de medo e nós, adultos, neste aspecto, somos apenas umas crianças maiores. Os filmes de terror e ficção científica sempre tiveram um largo público. Obviamente, a comunicação social sabe de tudo isto e explora o medo ao máximo. Os cientistas, esses, gostam de ter oportunidade de exibir todo o seu conhecimento e dessa forma exercerem sobre nós, pobre mortais, o seu poder.
Agora, dizem-nos que o H5N1, também conhecido por gripe das aves, pode vir a ser uma catástrofe inominável. Ninguém sabe se a coisa passa das aves para os homens e, muito menos, se é contagioso entre os homens. Não importa. Encontraram-se dois perus e mais meia dúzia de aves com o vírus na Europa? Bem, então, ponham-se a pau, é porque a coisa vai ser mesmo negra.
Significa isto que não se deve fazer prevenção em relação a esta última história de terror e morte anunciadas? Não, até porque, como explicava o Economist a semana passada, trata-se de algo relativamente simples e pouco dispendioso para os Estados Europeus. Qual é então o problema? Primeiro, o pânico que se está a tentar inculcar nas populações é contraproducente porque pode gerar prejuízos económicos incalculáveis. Segundo, estas histórias de terror de tão repetidas acabarão por criar a prazo indiferença nas populações. Isto faz-me lembrar aquela velha história do menino e do lobo. O menino anunciou, por brincadeira, várias vezes à aldeia que lá vinha o lobo e o bom povo, na sua credulidade, acreditava e punha-se em fuga em pânico. Até que um dia o lobo veio mesmo…bem, o resto da história já vocês sabem.
Por: José Carlos Alexandre