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A Importância da Verdade

Ouço Sócrates a ser entrevistado na RTP e não consigo acreditar nele. A falha deve ser minha e devo ter um defeito de carácter muito grande para não acreditar numa só palavra do que diz alguém tão bem vestido em tons apaziguadores de azul. Talvez seja por ser eu benfiquista – e não acreditarei, mesmo perante provas irrefutáveis, que Sócrates também o seja. Perguntam-lhe porque aumentou os impostos depois de ter prometido não o fazer e ele diz o que se esperava: mudaram as circunstâncias, o Mundo mudou e “eu não peço desculpas por cumprir o meu dever”. Não explica que a actual emergência começou há muito tempo e que era previsível há muito tempo. Não dá razões credíveis para só agora reagir. Tem razão numa coisa: vivemos uma emergência e há muitas medidas duras a tomar. Assumamos as coisas como são: embirro com o homem, e não é de agora, nem das últimas vinte e quatro horas, em que o ouvi falar o “portunhol” mais embaraçoso, mais humilhante de que há memória. Embirro com ele porque é primeiro-ministro do meu país e não acredito em palavra nenhuma que ele diga – e era fundamental, agora, termos à frente dos nossos destinos alguém em quem pudéssemos confiar.

Paul Krugman, Nobel da economia em 2008, dizia em 17 de Maio no seu blogue (http://krugman.blogs.nytimes.com/) aquilo que político nenhum da Europa tem coragem para dizer: com uma moeda única (e portanto sem políticas monetárias ou cambiais à disposição), os ajustamentos na competitividade de cada país requerem ajustamentos nos salários relativos. Significa isto que, na actual conjuntura, os salários dos países periféricos da União têm de baixar entre 20 a 30 por cento em relação aos salários praticados na Alemanha (Krugkman afirma isto e repete-o, em maiúsculas, para que ninguém tenha dúvidas). Sem isto, segundo ele, não vai haver crescimento económico ou saída da crise. Mas há uma alternativa, e cada vez mais economistas falam dela: sair do Euro. À esquerda, então, neste momento ou é isso ou pouco menos do que uma revolução. É verdade que vem aí uma moção de censura mas não vem, é fácil prevê-lo, uma alternativa integrada para resolver a crise, explicada e com números verificáveis.

Houve outro economista, este português, que propôs no “I” de 15 de Maio duas alternativas fiscais para combater o défice e aumentar a competitividade (http://www.ionline.pt/conteudo/59994-uma-alternativa-fiscal-responder–crise). Ricardo Reis escreveu que as medidas de aumento do IVA para 25% e a descida da taxa social única para 17%, em ambos os casos temporariamente, poderiam substituir as políticas de desvalorização da moeda que, desde a entrada no Euro, deixaram de estar ao nosso alcance.

Todas estas soluções partem de uma constatação, e esta é independente das práticas predatórias dos especuladores, dos objectivos inconfessáveis das agências de rating, de todas as injustiças de distribuição da riqueza. E tem tudo a ver com riqueza: produzimos muito menos, entre ricos, remediados e pobres, do que aquela que consumimos – e só continuamos a consumir essa riqueza, de que somos deficitários, endividando-nos, e isto não pode continuar. Talvez se partíssemos desta verdade básica, eliminando o ruído, a política e a demagogia, as soluções parecessem mais evidentes.

Por: António Ferreria

Comentários dos nossos leitores
MadGomes magomes77@gmail.com
Comentário:
Sou da mesma opinião!!!!! Hoje ouvi alguém dizer: «Se estamos mesmo destinados a seguir o caminho dos gregos, então comecemos por envenenar Sócrates».
 

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