Felicito o jornal O INTERIOR por mais um aniversário no seu já maduro percurso, no particular a todos os trabalhadores que abraçaram o projeto. Lanço-vos um desafio em torno das funções sociais do Estado na Beira Interior, naturalmente que para mim o SNS ocupa um espaço central, mas também as outras são nevrálgicas para o desenvolvimento.
Faço uma singela retrospetiva histórica para centrar-me no dia 5 de abril de 2011, estavam PS, PSD e CDS a preparar a assinatura do memorando com a “troika”, o meu camarada secretário-geral do PCP afirmava a necessidade de negociar a dívida quanto a prazos, juros e capital, como alternativa à ocupação do país pelo FMI/BCE/EU.
Importa recordar – muitos já não se lembrarão – que, por aquela altura, aquele que viria a ser primeiro-ministro afirmava que acabar com o subsídio de Natal era uma estupidez e que quase todas as forças políticas e economistas com presença na comunicação social consideravam as propostas do PCP irresponsáveis e desajustadas da realidade.
Felizmente que nos três anos posteriores o PCP apresentou na Assembleia da República inúmeros projetos de resolução no mesmo sentido, mas, caros leitores, sabem qual foi a orientação de voto do PS, PSD e CDS? A mesma de sempre, contra.
Passados estes três anos de brutal ataque aos rendimentos do trabalho e das reformas, destruição de milhares postos de trabalho, emerge um grupo de 70 personalidades, que inclui militantes e apoiantes dos partidos que se entenderam com a “troika”, para afirmar que este caminho não tem saída e apelar à renegociação da dívida.
Apesar das diferenças existentes entre as propostas dos subscritores e o que o PCP sempre defendeu, não deixa de ser interessante que figuras de proa do centrão político defendam agora, no essencial, o caminho proposto pelos comunistas como alternativa à intervenção externa no país.
Este manifesto surge num momento em que o ocupante do palácio de Belém vem defender o caminho do empobrecimento até ao fim dos tempos ou até 2035 se houver um milagre que ninguém viu acontecer em país nenhum – o mais caricato é defender que os portugueses devem procurar a agricultura como saída da crise, tendo sido ele o principal responsável pela sua destruição, assim como das pescas, da indústria, das infraestruturas ferroviárias, enfim uma lástima.
A divulgação deste manifesto teve do Governo a reação que se esperava. Desde o considerar inoportuno até a acusações veladas de falta de patriotismo dos subscritores, houve de tudo, o que levou Bagão Félix, que como se sabe não deixa de ter também responsabilidades, a fazer comparações entre a ditadura política e a ditadura dos “mercados” que levariam à mesma ausência de liberdade de expressão.
Alguém percebeu a posição híbrida institucional do PS, que afirma respeitar a iniciativa sem tomar posição sobre o seu conteúdo. Será que tem dificuldades em assumir os seus erros e não ser capaz de romper com os compromissos assumidos em 2011, quando negociou e assinou o famigerado pacto de agressão? Os portugueses querem uma alternativa e não uma alternância.
Espero que os subscritores sejam coerentes e apoiem medidas mais contundentes de rotura com estas políticas. De forma simplista, este manifesto pode não ter mais consequência nenhuma mas tem pelo menos o mérito de confirmar que cada vez mais sectores da sociedade vêm dar razão ao PCP sobre a necessidade de renegociação da dívida, demonstrando ainda que o Governo não é capaz de colocar os interesses do país acima dos interesses dos credores. Infelizmente, o PS, apesar do muito “barulho oposicionista”, tal como na “abstenção violenta”, não é capaz de rasgar o compromisso assumido com a “troika” e assumir posições políticas de construção de uma convergência de esquerda, soberana e patriótica.
Por: Honorato Robalo
* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP