«Tem que ser», repete Bruno Amaral, como que convencendo-se a si e aos outros que o mundo não para porque tem cancro. Aos 25 anos, o jovem natural de Trancoso continua a lutar contra o osteossarcoma que surgiu pela primeira vez há 14 anos.
Bruno Amaral está internado no Hospital Sousa Martins, na Guarda, há cerca de três semanas para vencer o osteossarcoma que afeta agora os dois pulmões. Este tumor maligno surgiu pela primeira vez na tíbia aos 11 anos, tendo afetado posteriormente o pulmão esquerdo, aos 14, e o braço esquerdo há cerca de ano e meio. A doença mudou a sua vida desde cedo, mas nunca a força e determinação com que a encara e muito menos o seu sorriso: assim que o coloca no rosto – e por mais que as dificuldades ocupem os seus dias –, ele não volta a sair.
«Não é nenhuma limitação, muito pelo contrário», sublinha Bruno Amaral. O INTERIOR encontrou-o na unidade de internamento de ortopedia, pois, quando foi internado, não havia vagas em pneumologia; mas ficou num espaço que conhece bem e cujos rostos já lhe são familiares: «Estive aqui internado por causa do braço, conheço-os a todos e já estou à vontade», indica o jovem trancosense. É com boa disposição que vive cada novo dia no hospital, procurando também dar força a quem o rodeia: «Sou o mais novo aqui, o resto já tem mais idade e brinco com eles, tiro fotos e ponho no Facebook», conta Bruno. Os amigos e familiares são presença assídua quando está internado, sendo que os dias também são passados «a chatear os enfermeiros quando é preciso», diz, entre risos.
Há dois anos deixou de ser consultado no Hospital Pediátrico de Coimbra, uma vez que teve alta «porque já estava tudo mais ou menos controlado antes de aparecer no braço», recorda. Ali, procurava ter sempre uma palavra de conforto para com os mais pequenos: «Brincava com os miúdos e dizia-lhes que aquilo não era nada», lembra o jovem, que já foi operado «22 ou 23 vezes». «Estou à espera de começar para a semana a quimioterapia e a radioterapia», adiantou o trancosense na semana passada.
«Estava muitas vezes no hospital mas não me deixei abater»
Com 11 anos fez quimioterapia, radioterapia e colocou uma prótese na perna, que depois «correu mal porque tive várias infeções, tiveram de retirá-la e meteram uma cavilha», refere Bruno. Passados três anos, o osteossarcoma surgiu no pulmão esquerdo, foi operado e o cancro deu-lhe “tréguas” durante algum tempo até voltar a aparecer há cerca de ano e meio. Apesar do tumor ter influenciado a sua adolescência, o jovem nunca baixou os braços: «Faltava muitas vezes às aulas mas, mesmo assim, não deixei de estudar. No 9º ano, em Coimbra, recebi a medalha de melhor aluno e mil euros de bolsa de mérito», recorda Bruno, orgulhoso. «Estava muitas vezes no hospital mas não me deixei abater e estudava lá. São doenças um bocado complicadas só que temos de seguir sempre em frente, é sempre a andar», declara.
Já aos 15 anos passou por uma experiência improvável e uma das melhores da sua vida. O ator norte-americano Paul Newman, falecido em 2008, tinha um filho com o mesmo problema de Bruno, pelo que, todos os anos, «pagava a 20 ou 30 pessoas de todo o mundo para irem à Irlanda do Norte», revela o jovem, que há uma década foi um dos escolhidos. «Andámos a cavalo, de Ferrari, de tudo e mais alguma coisa. Foram duas ou três semanas inesquecíveis e conheci o ator, que esteve lá dois dias connosco», sublinha.
Quando melhorar volta para as feiras
Bruno Amaral estava em Lisboa quando regressaram os sintomas: «Já me sentia cansado, tinha muita tosse e falta de ar», recorda. Na altura fez análises, exames e «disseram-me o que tinha». É na capital que atualmente se sente em casa, trabalhando habitualmente em feiras, nas “roulottes” das Farturas Família Gomes, o negócio da família: «Assim que estiver melhor vou logo para lá, sem dúvida alguma», garante, salientando que gosta muito de andar nas feiras, «correr Portugal e conhecer gente nova». «Tento aproveitar a vida ao máximo e faço tudo o que os outros fazem, isto não impede nada», afirma Bruno. No futuro, as opções de tratamento até podem passar por Cuba ou Espanha, mas agora a vontade é que tudo corra bem na Guarda para poder voltar a fazer aquilo de que mais gosta o mais depressa possível.
O facto de ter um tumor maligno, que pode reaparecer a qualquer momento, não condiciona o modo como vive, mas Bruno admite que tem «sempre algum receio e agora ainda mais». Contudo, só sabe olhar em frente, rumo a um dia sempre mais “risonho” do que o anterior. «Isto é apenas uma etapa, uma coisa má», vinca Bruno, deixando uma mensagem de força a quem está a passar pelo mesmo que ele: «Têm de lutar como sempre lutaram pela vida e nunca desistam, porque não vale a pena desistir por causa disto», considera.
Sara Quelhas
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