Arquivo

A história ao vivo em Trancoso

Município quer aproveitar valorização do campo da Batalha de S. Marcos para se transformar numa vila-museu

O campo da Batalha de S. Marcos, em Trancoso, vai integrar uma rede nacional de locais históricos evocativos das Guerras da Independência (1383-85), juntamente com Atoleiros e Aljubarrota. A ideia foi apresentada na semana passada pela Fundação Batalha de Aljubarrota, entidade parceira do município na recuperação, requalificação e valorização daquele terreno, situado a Sul da vila, recentemente classificado como Monumento Nacional. Em perspectiva estão a construção de um Centro de Interpretação, prospecções arqueológicas, a requalificação paisagística do local e possivelmente a reconstituição da batalha uma vez por ano. Mas num plano de acção mais vasto, Trancoso está apostada em transformar-se numa vila-museu.

O presidente da Fundação, Alexandre Patrício Gouveia, garante que há uma procura «enorme» por estes locais na Europa, com destaque para Waterloo (Bélgica), Hastings (Inglaterra) e Quercy (França), visitados anualmente por mais de um milhão de pessoas. «Mas tem que haver qualidade e rigor histórico, pois não chega dizer que foi aqui que tudo aconteceu. É preciso fazer uma contextualização o mais fidedigna e realista possível dos factos ocorridos e a sua importância para Portugal, sem nacionalismos bacocos», adianta aquele responsável. Para isso será necessário conhecer devidamente a história do local, o que se conseguirá através dos trabalhos arqueológicos previstos e que se espera que possam revelar objectos relacionados com a batalha e possivelmente uma vala comum. «Estima-se que não esteja muito longe da capela e que tenha recebido os corpos de 400 cavaleiros castelhanos mortos em S. Marcos», acrescenta, considerando que todo esse espólio merece ser divulgado no Centro de Interpretação depois de classificado. De resto, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Batalha de Aljubarrota avança com a hipótese de uma reconstituição anual da contenda, um acontecimento que pode ser outro motivo de atracção.

2006 é o ano previsto para iniciar trabalhos

Quanto ao Centro de Interpretação, a projectar por Gonçalo Byrne, estima-se que venha a custar qualquer coisa como 1,5 milhões de euros e deverá ser o centro nevrálgico do local, disponibilizando, de forma pedagógica, informação sobre a batalha, a História de Portugal e expondo os achados descobertos no campo. Os promotores da intervenção esperam conciliar a sua construção com as prospecções arqueológicas e a requalificação paisagística da envolvente, apontando o ano de 2006 para o início dos trabalhos. A Fundação vai custear 80 por cento do projecto de arquitectura e já celebrou um protocolo com uma empresa holandesa especializada para prestar serviços audiovisuais e multimédia com vista à animação cénica e multimédia no Centro. O arquitecto tem agora três meses para apresentar o projecto final e permitir que a valorização do campo de batalha possa ser candidatado a fundos comunitários em 2005. Segundo Alexandre Patrício Gouveia, é «incompreensível» que Portugal não dê a importância que merecem locais como S. Marcos, Atoleiros e Aljubarrota. «No primeiro caso, o local está relativamente esquecido e poucos sabem da sua importância na História. Por isso esta ideia de uma rede nacional para levar as pessoas a visitá-los», refere, acreditando haver um «potencial enorme» para se contar a História.

Simoneta Luz Afonso, também da Fundação, acrescenta que «através destes locais, é a origem da fundação da Europa que estamos a contar». Uma mais-valia que o país tem que aproveitar, porque o turismo cultural é a «indústria do futuro». Nesse sentido, Trancoso é um «sítio mágico» que vai ser alvo de uma intervenção patrimonial global e sustentada para dar aos visitantes «a sensação de entrar na História», adianta. A proposta mais futurista consiste em fornecer aos visitantes uns “headphones” que irão permitir obter informação sobre os locais mais importantes através de um sistema de infravermelhos. «Queremos fazer de Trancoso um museu interactivo e vivo, onde tudo o que vai ser feito se fará para e a favor dos trancosenses», indica, desafiando os locais a recuperar, entre outras coisas, as tradições gastronómicas. Por sua vez, Júlio Sarmento, presidente da Câmara, definiu o momento como de «grande importância» para a vila, cujo objectivo é fornecer um produto turístico de «excepcional qualidade» com a valorização do centro histórico no âmbito do programa das Aldeias Históricas. «Os argumentos não faltam, mas temos agora que ser mais exigentes e profissionais», avisou, esperando que toda a intervenção global possa estar concluída no final de 2007.

Terreno classificado

O terreno onde se situa o campo da Batalha de Trancoso é agora uma área classificada protegida até à conclusão do processo. Trata-se de uma medida cautelar para salvaguardar o sítio e evitar mais construções que as existentes. Júlio Sarmento fez questão de recordar essa situação e espera que os proprietários acordem consensualmente a cedência dos terrenos necessários ao projecto. «Toda aquela zona está fora da área urbana ou urbanizável prevista no PDM, nem era seguro que tal viesse a acontecer, por isso as indemnizações a atribuir não serão à vontade de cada um», disse, garantindo que o diálogo como os cerca de 25 proprietários da zona irá ter em conta «o interesse público e particular».

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply