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«A Guarda precisa de conhecer os valores que passaram por cá»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– José Pinto Geada

– Profissão: Pároco, Músico, Compositor

– Currículo: Sacerdote diocesano da Guarda, estudou música no Instituto Gregoriano de Lisboa, tem-se destacado no ensino e direcção de coros para os quais também compõe. Actualmente é maestro do Coro da Sé Catedral, dedicando-se à investigação da sua história musical. Mais recentemente, fez a transcrição da “Missa de 1801”, de João José Baldi, apresentada pela primeira vez publicamente nas Comemorações do 804º aniversário da cidade.

P- Considera-se o novo compositor da Guarda?

R- Não. Existem mais compositores que também desenvolvem trabalho nesta área, como por exemplo o padre Bernardo Tenreiro, que tem composto para o Centro Cultural, ou Victor Casanova, entre outras pessoas que foram passando pela cidade e que estão ligadas à música. Esta canção que hoje foi editada foi composta há alguns anos e surgiu de uma conversa casual com Américo Rodrigues, animador cultural da Câmara da Guarda, e do seu desejo em editar esta partitura para chamar a atenção a outros compositores e iniciar uma série de edições ligadas à música.

P- Já tem outros trabalhos em perspectiva?

R – De momento não.

P- Esta aposta na investigação musical vai ser uma constante na sua vida?

R- Sim, tenho todo o gosto em procurar tornar conhecidos estes mestres, alguns de renome, como João José Baldi, que nos proporcionou, através de uma das suas obras, uma excelente missa no dia 27 de Novembro. Acho que a Guarda precisa de conhecer os valores que passaram por cá e seria uma pena que se perdesse uma música tão bela como a que compuseram. É neste sentido que é feito todo este trabalho de investigação, o de dar a conhecer os mestres notáveis que passaram pela Sé da Guarda e toda a sua música. Como bem sabemos pela história, o arquivo musical da Sé da Guarda foi incendiado aquando das Invasões Francesas e perdeu-se praticamente tudo. Esta missa de João José Baldi só sobreviveu porque estava nas mãos de algum cantor da Sé e porque faz parte da Biblioteca Musical do Seminário. Normalmente é fora, noutros arquivos, que vamos investigar e encontrar outras partituras. Por outro lado, há, da parte da Câmara, uma abertura muito grande para impulsionar a investigação da música da Catedral Egitaniense, demonstrada pela aceitação em divulgar iniciativas como esta e também pela promoção de alguns concertos notáveis como “O Messias”, de Haendel, e o próprio trabalho dos coros da cidade e outros concertos do coro da Sé Catedral, que de alguma maneira procuram promover a música da cidade trabalhando com o material disponível e com a “prata da casa”.

P- Qual é o objectivo deste trabalho?

R- O objectivo verdadeiro é da autarquia, que quer iniciar a edição de partituras e se isso pode realmente ajudar a um maior gosto pela música e a uma maior motivação para outras pessoas que compõem, já me dou por satisfeito.

P- Porquê a escolha destes instrumentos, flauta e adufe?

R- A música dos trovadores era executada por jograis que se faziam acompanhar por diversos instrumentos, não quer dizer que sejam forçosamente estes que estão nesta partitura. Estes funcionam como uma referência para relembrar que os trovadores eram sempre acompanhados por instrumentos, porque a partitura está feita para poder ser executada mesmo sem eles. A inclusão destes instrumentos diz respeito a uma opção pessoal que tem como preocupação reconstruir, em traços gerais, o ambiente da época.

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