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A Guarda “no mapa” da arquitectura

Filipe Jorge elogia o trabalho feito na “cidade mais alta” mas deixa um recado aos arquitectos e aos autarcas

Dos mais antigos aos mais modernos, são 66 edifícios ou sítios, cinco espaços urbanos e quatro conjuntos urbanos os contemplados no Mapa de Arquitectura da Guarda, apresentado quinta-feira no átrio da Câmara Municipal. Mesmo sem a presença de autarcas, o documento «verdadeiramente inédito» foi apresentado em dia de aniversário da cidade a um vasto grupo de arquitectos, engenheiros, convidados e curiosos que quiseram “ver a Guarda no mapa”.

Apesar das contrariedades da viagem, Filipe Jorge, arquitecto e mentor desta iniciativa levada a cabo pela editora lisboeta “Argumentum – Edições, Estudos e Realizações”, que integrará na colecção “Mapas de Arquitectura de Portugal” as 18 sedes de distrito, disse que «valeu a pena» chegar à Guarda para mostrar a 12ª publicação deste tipo. Um documento que mostra o património arquitectónico e urbanístico de todas as capitais de distrito e «ocupa uma lacuna editorial em Portugal». Trata-se de publicações que pretendem «divulgar e preservar» a arquitectura das «nossas cidades com maior interesse», em contraste com os guias turísticos que são «redutores na apreciação da arquitectura». É por isso que estes mapas procuram ir «mais além», procurando sinalizar a arquitectura de referência e de qualidade numa perspectiva abrangente desde as referências mais antigas às mais contemporâneas. Filipe Jorge realçou que estes documentos não se destinam apenas a arquitectos, que já conhecem o que existe, mas aos que «se vão reencontrar com a sua cidade»: alunos, professores, restaurantes, hotéis, autarcas, entre outros, servindo como «ferramenta de afirmação de quem cá está e de quem chega».

Editados em português, inglês e espanhol, os mapas contemplam obras escolhidas pelos arquitectos da cidade, neste caso por António Carreira e António Saraiva, «solidariamente» assumidas pela coordenação do projecto. Filipe Jorge disse mesmo que «esta é a escolha, o que não está não pertence a esta escolha que é da responsabilidade da editora». Ainda assim, os arquitectos guardenses garantem que escolheram o «representativo» da cidade desde os primórdios aos nossos dias, elogiando ainda o crescimento de produção no trabalho de arquitectura na Guarda, que passa a ter um registo «especializado» do que possui. O arquitecto realça também o facto de haver «várias» obras da autoria de engenheiros, um facto reconhecido por Filipe Jorge, que destaca não apenas a «grande» participação dos arquitectos na produção de arquitectura, como de técnicos de outras disciplinas, nomeadamente engenheiros nos anos 30/50, mostrando uma «qualidade intrínseca que é raro verificar aos engenheiros e a outros curiosos que praticam a construção», diz.

Embora «não se possa classificar a Guarda nem qualquer outra cidade», Filipe Jorge entende que é uma cidade com «muito carácter» e «profundamente marcada, como todas, pelo relevo, pela geografia onde se inseriu», além da história da sua ocupação humana, da sedimentação dessa mesma ocupação e de um desenvolvimento que «deve ser olhado por quem tem capacidade decisória com muita atenção para que se mantenha de uma forma controlada». O arquitecto alerta ainda para que não aconteça como em algumas sedes de distrito onde «verificamos que essa expansão é feita com custos, penas e chagas que depois são difíceis de sarar», algo que na Guarda «ainda não se verifica». «Mas atenção porque basta um pequeno erro para que depois a avalanche se multiplique», sublinha, pedindo aos arquitectos e aos autarcas que «não olhem para o passado no sentido de o classificar, mas olhem para o futuro com base num passado que tem a responsabilidade que todos ajam, seja na decisão, no projecto ou na concretização, de uma forma respeitosa, inteligente, eloquente e digna».

Rita Lopes

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