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«A Guarda foi enganada com a promessa da sede da Região de Turismo do Centro»

Entrevista – Cara a Cara

P – A proposta de lei para a reorganização do sector do turismo em cinco regiões foi chumbada no último Conselho de Ministros. Uma decisão que, certamente, o deixou satisfeito?

R – Concerteza, porque se trata de uma resolução coerente com tudo aquilo que sempre defendi. Da análise da proposta, devo dizer que não descobri nenhum benefício para a Serra da Estrela ou para o interior do país. Apenas encontrei mais-valias para o litoral. Esta foi uma tentativa que representava, claramente, um retrocesso na autonomia do interior e que, felizmente, não foi aprovada. A Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) já tem um historial de 50 anos com esta designação e quase 80 anos de existência, se contarmos com a denominação anterior, e seria a primeira vez em que perderia autonomia.

Aliás, julgo que qualquer divisão do país em cinco regiões – seja no domínio da indústria, do desenvolvimento de infraestruturas, no diálogo com Bruxelas ou no turismo – representa uma “facada” no interior. Sou um regionalista convicto, mas sempre defendi a autonomia do interior. Acredito que não será Coimbra a potenciar e desenvolver o que quer que seja em qualquer cidade do interior. E do ponto de vista do turismo, esta divisão em cinco regiões seria mais grave do que em qualquer outra área, já que é o sector que mais cresce no interior. Aliás, é por esta razão que os políticos bem pensantes de Coimbra entendem que a Serra da Estrela faz falta à pretensa região Centro.

P – Pensa integrar a nova Associação para a Promoção do Turismo na Região Centro de Portugal – Turismo Centro de Portugal?

R – Saímos da Associação Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal porque, no primeiro ano de actividade, os seus responsáveis trouxeram à região Centro 122 dormidas de grupos de operadoras turísticas. 60 foram canalizadas para Coimbra, mas nenhuma veio para a Guarda, Seia ou Covilhã. Foi a principal justificação para abandonarmos essa agência de promoção externa. Curiosamente, o organismo acabou se extinguir entretanto, apresentando problemas financeiros e inúmeras ilegalidades. Foi criada depois a Associação para a Promoção do Turismo na Região Centro de Portugal – Turismo Centro de Portugal que, no entanto, não está legitimada pelo Governo para ter os direitos de promoção no exterior. Por enquanto são apenas alguns actores que se juntaram e foram ao notário fazer a escritura de uma nova associação. Como tal, não merece consideração rigorosamente nenhuma, exceptuando a mesma que mereceu aquela agência que levou as dormidas todas para Coimbra.

P – Há tempos chegou-se a falar que a Guarda poderia vir a ser a futura capital da Região de Turismo do Centro. Considera viável esta hipótese?

R – Há poucos dias li uma entrevista do deputado do PS e líder da Federação de Coimbra a anunciar que a sede iria para Coimbra. Julgo que os responsáveis políticos que prometeram a sede na Guarda terão de vir agora dizer porque o fizeram e quem é que lhes prometeu essa situação. Até porque o projecto-lei levado a Conselho de Ministros, e que nos foi entregue, não referia onde se instalariam as sedes. Competiria ao futuro organismo decidir onde é que elas ficariam. No entanto, devo dizer que a Guarda, como qualquer cidade do interior, nunca terá peso numa vasta pretensa região Centro para impor o que quer que seja, porque o peso demográfico e de representação está no litoral – em Coimbra, Leiria, Aveiro e mesmo Viseu. Por isso, considero que a Guarda foi enganada e julgo que há responsáveis na cidade que sabem quem os enganou e deveriam dizê-lo.

P – Estamos a aproximar-nos da chamada época alta. Quais as suas expectativas para o destino Serra da Estrela?

R – Soube, também há dias, que uma prova do Campeonato Europeu na Finlândia foi adiada por falta de neve. Por isso, espero sinceramente que não tenhamos um Inverno como o do ano passado. Como estamos no Sul da Europa, não acredito que haja progressivamente cada vez menos neve. Acho é que há anos melhores e anos piores e assim será nas próximas décadas. Mas espero que a neve, o grande atractivo da região, venha em força neste Inverno. E também que continuem a avançar as peças complementares do turismo de neve que estamos a criar na região. Muitas delas estão, aliás, a ser lideradas pelos próprios municípios, caso de Belmonte, Guarda e Trancoso, já para não falar, por exemplo, do caso de Seia, com a abertura do Centro de Interpretação. Espero que este conjunto de infraestruturas sejam um contributo para aumentar o atractivo turístico na Serra da Estrela.

P – O que ainda falta fazer pela promoção turística da Serra da Estrela?

R – De maneira geral, acredito que falta concretizar o que vem no Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT). A Serra da Estrela foi considerada pelo Estado –infelizmente, o Plano Regional do Centro não o manifestou – como um dos cinco pontos estratégicos do turismo nacional. O próprio ministro da Economia anunciou no Fórum Europeu, recentemente realizado no Algarve, que a Serra da Estela é uma das futuras apostas do Estado. Agora, falta concretizar isso com medidas, até porque o quarto Quadro Comunitário de Apoio está a chegar.

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