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«A Guarda é má madrasta»

Rotary Club homenageia este sábado o historiador Adriano Vasco Rodrigues

«Foi uma grande surpresa por vir de onde veio, pois desconhecia que existia um clube de rotários na Guarda, o que me agrada imenso». Foi assim que o professor Adriano Vasco Rodrigues, nascido e criado na “cidade mais alta”, recebeu a notícia da homenagem que o Rotary Club lhe vai fazer este sábado no Hotel Turismo.

«Surpreendeu-me muito porque não esperava», conta a “O Interior”, sentindo-se «muito honrado», pelo que decidiu vir à Guarda «agradecer que se tenham lembrado de mim». È que Adriano Vasco Rodrigues não guarda uma boa imagem dos guardenses, afirmando mesmo que a Guarda «é má madrasta» porque «todos acham que são superiores», desabafa, considerando mesmo que a cidade cresceu muito mas «não em qualidade». Como investigador de alguns fenómenos e características desta região, Adriano Vasco Rodrigues também estudou o povoamento e concluiu que são as pessoas do distrito que abandonam as aldeias e ficam na cidade, pelo que relativamente ao número de habitantes, a Guarda tem «muitas carências culturais». «A única mudança foi o aumento do número de jornais», refere o professor, embora considere que mesmo esses «são controlados por meia dúzia de pessoas». Por ter nascido na Guarda, Adriano Vasco Rodrigues dedicou-lhe sempre «muito tempo» de investigação e escrita, «preocupado» em descobrir o seu passado, potencialidades, história e outros aspectos.

O seu primeiro trabalho foi dedicado à Sé Catedral, pois «não havia nada que falasse dela». A impressão foi paga pelo Governo Civil de 1953 e o dinheiro da venda canalizado para a construção do novo quartel dos bombeiros.

Além disso, e enquanto professor no liceu, Adriano Vasco Rodrigues organizou o teatro “Romanceiro”, cujo rendimento dos espectáculos era dividido entre os Gaiatos da Guarda e os “soldados da paz”. Em 1955 organizou uma exposição numismática que «atraiu muita gente», além dos jogos hibernais que tiveram «bastante sucesso». Hoje, apesar da vida o ter levado para outras paragens, o docente afiança que «nunca» deixou de se preocupar com a Guarda, investigando sobre ela quando poderia fazê-lo sobre o Porto, por exemplo, de onde receberia «mais reconhecimento», garante. Ainda assim, admite que «nunca» fez nada para a Guarda lhe agradecer, mas «há coisas que chocam e não sabemos explicar». Lembra, por exemplo, a cerimónia de homenagem ao ensaísta Eduardo Lourenço, para a qual não foi “tido nem achado”. «Sou o único natural da Guarda que foi aluno do professor em Coimbra e ignoraram», lamenta, recordando um livro que ofereceu à Câmara e que nunca chegou a ser publicado. O historiador fala ainda do facto de ter relacionado a Guarda com a Universidade de Salamanca, mas que também nunca foi convidado para assistir a uma sessão do Centro de Estudos Ibéricos. Enfim, «a Guarda marginaliza-me e nunca soube porquê», conclui Adriano Vasco Rodrigues.

Para demonstrar que não será bem assim, o Rotary Club decidiu homenageá-lo pelo «elevado padrão ético» e competência profissional, como explica Maria de Lurdes Lopes, presidente desta instituição, defendendo que o professor se enquadra «perfeitamente no nosso objectivo». «Há pessoas na Guarda que podemos distinguir porque lhe ofereceram uma vida e ele distinguiu-se pelo trabalho nesta cidade», acrescenta a também docente, para quem a Guarda «deve-lhe esta homenagem» para dizer «o quanto o estimamos» e agradecer a investigação que tem feito sobre a Guarda e o distrito. O Rotary lembra ainda o tempo em que Adriano Vasco Rodrigues foi Governador Civil da Guarda, tendo «conseguido aliar a preocupação da defesa intransigente dos interesses do distrito com uma permanente abertura de espírito», pautando a sua acção por uma postura suprapartidária. O professor licenciou-se em Ciências Históricas e Filosóficas, pela Universidade de Coimbra, em 1956 e daí para cá tem tido um percurso de grande actividade como formador, investigador e escritor. São vários os trabalhos publicados sobre as terras guardenses, desde Pinhel, Valhelhas, Meda, Celorico da Beira, Trancoso e outras. Foi docente do ensino primário, secundário e hoje está vinculado à área do Património e aos Estudos Africanos na Universidade Portucalense, no Porto. Destacou-se ainda como director-geral do ensino particular e cooperativo, como director da “Schola Europaea” (Bruxelas) e ainda por variadíssimas actividades ligadas à educação, cultura e presença judaica em Portugal. Os interessados em participar nesta homenagem deverão inscrever-se na recepção do Hotel Turismo ou pelo telefone 271 223 366.

Rita Lopes

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