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A força do Manuel

Bilhete Postal

Tenho dificuldade em perceber a resistência de alguns em saírem da ribalta. Como se tivessem de ser eternos. Eles são a solução, o caminho e a luz. Há em tudo isto algo de vaidade, muito de presunção e sobretudo há a cegueira de que ao lado ninguém serve. Quando o Manuel se lança percorre a boca de cena com a mesma força que nunca a quis deixar. O Manuel emproado disse mal de tudo e de todos e criou a sua própria onda, seu próprio desporto, O eu eterno ou o tudo á volta de mim. O Manuel não foi empresário, mas dizia mal das empresas e dos donos delas, o Manuel não foi operário, mas percebia que só eram trabalhadores por injustiça social, de outro modo chegariam a doutores. O Manuel via como o Mundo se desequilibrava por culpa dos políticos, sua profissão de sempre, mas a culpa era dos outros. “Eles”, clamava dos colegas, não sabiam nada disto e por esta razão Portugal esmorecia. O Manuel não era músico, mas decidia quem sabia cantar, não era homem das terras, mas sabia de agricultura, e, sem ser treinador, dominava o futebol. Agora o Manuel ia encontrar a luz, o novo destino. Manuel levanta-se para resolver Portugal. Ele firmemente se descobre a mudança, e se descobre solução. Sente-se vigoroso nos seus 70 anos, sente-se preterido pelos caminhos anteriores e desse modo surge no palco. É o tropicalismo, é o novo som, a nova pujança. E Manuel, como tantos outros, não consegue perceber a importância das horas em que não está, das soluções que o não incluem. Manuel é cheio de força e cheio de esperança e cego a todos os outros. Bom, estou a mentir. O Manuel gosta do António e do Adriano e do Alfredo e de muitos outros amigos que já morreram. Eu conheço tantos como o Manuel, que não permitem que outros cantem, outros surjam, outros encantem. Aqui ninguém se aparta. Só de empurrão.

Por: Diogo Cabrita

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