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«A Feira de S. Bartolomeu é o evento que mais gente traz a Trancoso e aquele que gera um retorno económico assinalável»

Entrevista a Amílcar Salvador, presidente da Câmara Municipal de Trancoso

P – Quais são as novidades da Feira de S. Bartolomeu deste ano?

R – É a feira franca mais antiga do país, tendo sido criada em 1273, e é sem dúvida um dos maiores eventos comerciais do distrito da Guarda e da região com dez dias de grande animação, milhares de visitantes vindos de todo o lado, onde se fazem muitas transações e onde se movimenta muito dinheiro. Por isso, o município de Trancoso procura todos os anos criar um cartaz digno e que atraia muita gente. Mantemos o mesmo figurino dos anos anteriores, com um grande palco e uma tenda gigante coberta para amenizar as noites mais frescas. Este ano alterámos o espaço do artesanato, que deixará de estar frente à entrada do pavilhão multiusos e ficará mais no centro da feira e próximo da zona da tenda de espetáculos. Pensamos que assim os 35 a 37 expositores deste setor terão mais visibilidade e poderão beneficiar mais da sua participação.

P – E o que vai ficar nesse espaço?

R – Iremos criar uma pequena zona de animação infantil e lúdica com uma área de relva e um segundo palco de espetáculos a pensar nos mais novos. Esta é novidade em relação às edições anteriores e creio que vai resultar.

P – O resto mantém-se, nomeadamente a Feira Agropecuária?

R – Sim. A Feira de S. Bartolomeu terá início amanhã, dia 10, uma sexta-feira, dia de grande dinamismo e muito movimento em Trancoso por causa do mercado semanal, que é de facto, ao longo do ano, o que nos distingue dos restantes concelhos da região pela sua capacidade de atração e de negócios. A abertura oficial está marcada para as 10h30 – convidámos o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e aguardamos confirmação da sua presença. A Feira Agropecuária acontece na manhã do último dia, no mercado do gado, estando já inscritos cerca de 40 criadores de ovinos e bovinos do concelho. No âmbito desta feira iremos também proporcionar uma pequena garraiada.

P – Qual é o cartaz de espetáculos desta edição?

R – Amanhã teremos o Richie Campbell e no sábado o Rui Veloso, dois grandes nomes da música portuguesa que vão atrair com certeza muita gente no primeiro fim de semana. No domingo e na segunda-feira os espetáculos serão de entrada livre com as Garotas de Ipanema e o grupo Kapital, respetivamente. Só teremos bilheteira nos dois primeiros dias, com o preço único de 2,5 euros, e depois com Matias Damásio (dia 14), Augusto Canário (dia 16), João Pedro Pais (dia 17) e Agir (dia 19). Dos dez dias do programa teremos apenas seis com bilheteira, mas é um cartaz que nos orgulha e dignifica a Feira de S. Bartolomeu. Na tarde do último dia decorre o habitual festival de folclore, que já vai na 29ª edição e é organizado pelo rancho da Associação Cultural e Recreativa de Trancoso.

P – A organização volta a apostar na animação fora de horas com DJ’s?

R – Todas as noites, depois dos concertos, haverá música até às três horas da manhã porque a juventude é extremamente importante. A animação é tal na tenda que às vezes temos até dificuldade em encerrar a feira nesse horário porque os jovens querem continuar pela madrugada fora.

P – O que representa o certame para o concelho e para a economia local?

R – Tem um contributo muito grande para a nossa economia e o mais importante é que se realiza mesmo no centro da cidade, junto à zona histórica. Ou seja, os visitantes da feira entram também no centro histórico para conhecer o nosso património e isso é uma mais-valia muito grande para a nossa restauração, cafés e comércio. Talvez seja caso único na região, onde a maioria das festas e feiras se realiza longe das zonas históricas. Em Trancoso, as cento e muitas mil pessoas que visitam a feira de S. Bartolomeu passam pelo nosso centro histórico, portanto o impacto económico é muito grande. O certame tem 32 mil metros quadrados de área vedada, teremos mais de 150 expositores com stands onde encontraremos de tudo, da maquinaria agrícola ao artesanato, passando pelo bazar, as diversões e as tasquinhas. Já no pavilhão multiusos estarão as atividades económicas com empresas e entidades locais. É uma diversidade que representa muito em termos da capacidade de atração de pessoas. Mas Trancoso, além do património, é uma terra de feiras importantes, de comércio, ao longo de todo o ano. O município tem procurado criar uma dinâmica muito forte nestes últimos anos para promover e divulgar a marca Trancoso. Temos a recriação da Batalha de Trancoso, em maio; as Bodas Reais de D. Dinis e D. Isabel, em junho, o festival de música no castelo, em julho, a Feira do Fumeiro, em fevereiro/ março, mas naturalmente que, de todos estes eventos, a Feira de S. Bartolomeu é o maior e aquele que mais gente traz à cidade e gera um retorno económico assinalável para os nossos empresários e comerciantes. São dez dias de grande animação e a Câmara prepara cada edição com a dignidade que esta feira centenária merece. O município tem que ser sempre o motor de arranque da nossa economia e temos dado o nosso contributo, além das obras e do reequilíbrio financeiro.

P – Falou da Câmara como grande motor da dinamização económica do concelho. É por isso que a autarquia chamou a si a organização da feira?

R – Temos um relacionamento excelente com todas as associações do concelho, que apoiamos financeiramente, até porque esses apoios acabam por ficar cá. Mas tenho que dar um ênfase muito grande ao papel da AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira, pois queremos fazer um trabalho em rede, sobretudo neste mandato, de promoção do emprego e do empreendedorismo e portanto o parceiro ideal para trabalhar connosco é a AENEBEIRA. A associação empresarial faz o seu trabalho nesta feira, sobretudo na disponibilização dos espaços, na contratação dos expositores e na logística dos stands no campo da feira e no pavilhão multiusos. A parte da animação, da divulgação e promoção do certame é responsabilidade da autarquia, mas sempre em diálogo com a AENEBEIRA.

P – Qual é o orçamento desta edição?

R – Ronda os 180 mil euros, artistas, palcos e vedação incluídas. A quantidade de pessoas que nos visitam nestes dez dias e as transações que se fazem justificariam um investimento maior, mas a Feira de S. Bartolomeu já leva a fatia maior do “bolo”, cerca de 300/ 400 mil euros, que o município gasta nos eventos programados ao longo do ano, que já são muitos.

P – Neste caso, a autarquia tem apoios ou é uma despesa que faz sozinha?

R – Não temos apoios, estes 180 mil euros são exclusivamente do orçamento municipal. Mas as receitas dos espetáculos compensam alguma coisa, pois, apesar de serem preços simbólicos de 2,5 euros, se entrarem 50 mil pessoas nos concertos temos uma receita de 125 mil euros só de bilheteiras, que são a nossa única fonte de receita na Feira de S. Bartolomeu. Já o aluguer dos stands é receita da AENEBEIRA. Mas este é um investimento que vale a pena, que se justifica e nem podia ser de outra forma quando temos a feira franca mais antiga do país e maior da região.

P – Na edição de 2017 houve mais de 100 mil visitantes. Qual é o objetivo este ano?

R – As nossas expetativas são de aumentar o número de visitantes tendo em conta a qualidade do cartaz. Tanto mais que os visitantes a Trancoso têm aumentado de forma quase exponencial ao longo do ano, são milhares de pessoas que vêm até nós por causa dos eventos que realizamos, mas também para conhecer o nosso património, a judiaria, a Casa do Bandarra, o centro Isaac Cardoso. Todas as pessoas nos dizem que temos uma cidade bonita e que querem voltar. Depois, nesta altura do ano, temos também muitos emigrantes que regressam às suas terras de origem para as férias. De resto, a cidade está mais bonita, requalificámos a entrada sul, entre o Chafariz do Vento e Trancoso, que tem agora um aspeto completamente diferente do que tinha há um ano. Toda a Avenida Heróis de São Marcos foi requalificada, tal como o mercado municipal e o espaço comercial contíguo com seis lojas – duas das quais já estão abertas, as outras abrirão em breve –, bem como o tribunal. O próprio edifício dos Paços do Concelho tem hoje outro aspeto, o Palácio Ducal estava completamente degradado e nem era da Câmara, hoje está minimamente consolidado e é propriedade do município. Há um conjunto de equipamentos e de obras que, pouco a pouco, contribuem para melhorar Trancoso.

P – Quanto expositores vão estar presentes este ano?

R – Contamos com cerca de 150 expositores, vinte dos quais no setor dos automóveis, dez de maquinaria agrícola, cerca de quarenta no artesanato, além das diversões, restaurantes e tasquinhas. Dentro do pavilhão multiusos estarão cerca de 90 expositores de atividades económicas e representantes institucionais. O espaço da feira está completamente cheio e penso que não haverá possibilidade de crescer mais. Este ano, segundo informação da AENEBEIRA, a venda de stands/ espaços correu ainda melhor, houve mais procura e com antecedência porque creio que o cartaz foi do agrado dos expositores.

P – Numa feira com tanta tradição e história, ainda há espaço para a novidade? O que pode ser melhorado e marcar ainda mais a diferença?

R – Creio que as coisas têm corrido muito bem, mas há sempre espaço para a criatividade e a inovação. Antes de chegarmos à Câmara a vedação do espaço era feita em taipal fechado para impedir que se visse o interior do recinto, hoje é feita em rede, que é logo um pormenor que faz a diferença. Depois, temos as diversões, os concertos e a promoção. Quando as coisas correm bem não devemos mexer muito, só introduzir alguma novidade, como este ano com esse espaço para os mais novos.

P – Falou nas obras. É importante requalificar o espaço urbano também para atrair visitantes?

R – Claro que sim. Temo-lo feito na sede do concelho e nas freguesias. Em Trancoso, creio que tivemos um arranque de mandato excecional em termos de obras e até há quem estranhe pois não estamos em ano de eleições. Mas sou da opinião que estamos cá para trabalhar pelas pessoas e não podemos deixar de fazer o que é preciso, tem que ser um trabalho contínuo ao longo do mandato. Foi a estrada, foi o mercado municipal, iniciámos a construção do centro escolar da Ribeirinha, adjudicamos o Centro de Inovação Social, que estará em obra muito em breve, e vamos ampliar a zona industrial. No passado dia 7 terminou o prazo de apresentação de propostas para esta empreitada de um milhão de euros, cofinanciados em 85 por cento pelo Programa Operacional Regional do Centro. Será a obra mais importante deste mandato porque continuamos a ter muita procura de lotes e espaços para instalação de empresas. Não tenho dúvida que aqueles quinze lotes serão ocupados rapidamente porque as pessoas acreditam em Trancoso, que é uma terra de muitas potencialidades com excelentes acessibilidades, património, qualidade de vida e história em termos comerciais. Candidatamo-nos também ao Programa de Beneficiação de Equipamentos Municipais do Governo com a requalificação do estádio. Nas freguesias, adjudicamos a requalificação da igreja de Santa Marinha, em Moreira de Rei, e o largo envolvente e queremos construir um centro interpretativo da localidade, cujo projeto está aprovado e o concurso a decorrer. Estamos a elaborar também outros projetos para Freches e Valdujo.

P – A autarquia tem apostado na dinamização do setor agrícola, com que resultados?

R – Na fileira da castanha, nos últimos três anos, após a assinatura de um protocolo com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, foram plantados mais 4.000 castanheiros no concelho. O objetivo é atingir os 15 mil e vamos renovar esse acordo. Atualmente temos cerca de 900 produtores de castanha, um número que tem crescido nos últimos anos. Temos feito um trabalho excelente com a UTAD na plantação, preparação e no combate às doenças do castanheiro, que será apresentado na próxima Feira da Castanha, em novembro. Também houve um crescimento na agropecuária, cujo melhor exemplo é a recuperação do mercado do gado, que estava completamente abandonado. Na fileira do vinho temos apoiado a promoção da Adega Cooperativa Beira Serra, de Vila Franca das Naves, bem como o mel. Mas quero realçar o grande dinamismo dos nossos empresários agrícolas do setor dos enchidos e fumados, do agroalimentar e do azeite – está a ser construído um lagar nos Cótimos, que irá juntar-se aos existentes na Cogula e Freches. Queremos promover este dinamismo e no futuro centro Inovcast, uma incubadora de empresas no antigo quartel da GNR de Trancoso, iremos criar um espaço de provas destes produtos de excelência. Esta é outra obra que arrancará em breve no centro histórico. A aposta no setor primário do concelho é muito forte porque sabemos bem da sua importância na economia local.

P – Disse que o empreendedorismo e a promoção do emprego vão ser duas áreas importantes neste mandato. Que medidas vai implementar?

R – Há uns meses O INTERIOR divulgou a lista das 50 maiores empresas do distrito, em termos de faturação, e verifiquei que cinco delas são do concelho de Trancoso. São a Floponor, a Casa da Prisca, a Afonso & Filhos, a Lactovil e a Generg, sinal de que os empresários continuam a acreditar muito em Trancoso e se não tem havido mais investimento é sobretudo porque a Câmara não conseguiu dar resposta aos pedidos. Por isso, a nova área de acolhimento empresarial, como também não vamos esquecer neste mandato a área em Vila Franca das Naves. E vamos continuar a apostar na economia e no emprego. Temos realizado ações com a AENBEIRA, nomeadamente para os nossos comerciantes sobre a importância de saber receber bem os turistas. São visitantes israelitas, franceses, ingleses, espanhóis e portugueses, pelo que tem que haver uma adaptação do comércio local a este mercado com produtos endógenos de qualidade.

P – Mas o que há em termos de apoios concretos para as empresas?

R – Existe um programa de apoio ao investimento, mas reconheço que a Câmara tem ficado um pouco aquém, sobretudo por falta de espaços para disponibilizar aos investidores. Mas quero sublinhar a vontade e o acreditar dos privados, o exemplo mais recente é o investimento no espaço chamado Villa Cruz. Trata-se de um empresário originário do concelho que já deu garantias que vai fazer o projeto que apresentou – e que o vosso jornal já divulgou. De resto, o conjunto de eventos que promovemos ao longo do ano, quando investimos na requalificação do património e das estradas, é também uma forma de colaborar indiretamente com os nossos empresários.

P – O município tem apostado em cinco/seis eventos ao longo do ano para promover Trancoso. São os grandes impulsionadores da marca Trancoso na região e no país?

R – As Bodas Reais, a recriação da Batalha de Trancoso, o Festival de Música no Castelo, a Feira de São Bartolomeu, a Feira do Fumeiro e a Festa da Castanha e o programa natalício são os principais. Mas neste mandato houve uma grande mudança, pois janeiro é o único mês em que não temos um evento. Tudo isto dá uma dinâmica muito grande à cidade e ao concelho, não esquecendo as atividades nas freguesias com as quais colaboramos fruto da dinâmica das associações locais.

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