«A Faculdade de Medicina da Universidade da Beira Interior não é um critério para a fixação do bloco de partos no hospital da Covilhã», reiterou, na semana passada, o Bastonário da Ordem dos Médicos após uma visita ao Centro Hospitalar da Cova da Beira. De passagem pela Covilhã, Pedro Nunes, que, há umas semanas atrás, tinha deixado transparecer uma posição semelhante em Castelo Branco, voltou a defender a existência de duas maternidades na Beira Interior.
Mas desta vez foi mais comedido e não repetiu que esses serviços deveriam ficar nos extremos da região, ou seja, na Guarda e Castelo Branco. Ou mesmo que a existência de um único bloco de partos seria uma medida «excessivamente restritiva», embora tenha deixado escapar que «numa área com mais de 200 quilómetros de ponta a ponta, não se pode obrigar toda a gente a deslocar-se para o centro». Assumindo que «faz sentido defender duas maternidades» por causa da extensão da Beira Interior, que vai de Vila Velha de Ródão a Vila Nova de Foz Côa, Pedro Nunes preferiu a diplomacia: «O que quis dizer em Castelo Branco foi que faria sentido haver duas portas de entrada do sistema, pois a distância é, neste caso, um argumento válido para haver duas maternidades», afirmou, esclarecendo não ter pretendido na altura «defender Castelo Branco e Guarda em detrimento da Covilhã, ou vice-versa». Até porque a Ordem dos Médicos já tem uma posição sobre o encerramento de maternidades na Beira Interior, mas que só será divulgada após o ministro da Saúde a conhecer.
Em Março, “O Interior” noticiou que a região vai ser servida pelas maternidades da Guarda e Castelo Branco, uma decisão do Ministério, que terá optado por encerrar o bloco de partos da Covilhã, unidade que deverá assumir a investigação na área da medicina de reprodução e da genética no futuro Centro Hospitalar da Beira Interior (CHBI). Fontes então contactadas garantiram que a escolha do Sousa Martins e do Amato Lusitano seria «a solução que melhor serve a região em termos assistenciais, já que as duas unidades permitem cobrir o máximo de utentes da Beira Interior, sobretudo os pontos extremos de ambos os distritos, e evitar “fugas” de parturientes para hospitais vizinhos». Por outro lado, também terá contribuído o facto da Covilhã estar equidistante, via auto-estrada A23, das duas capitais de distrito, salvaguardando-se assim «uma certa proximidade» para que este tipo de cuidados possa ser prestado com segurança. Só que a crescente oposição em Castelo Branco à criação do CHBI já terá levado João Casteleiro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira, a propor à tutela que o bloco de partos fique na Covilhã.
Considerações são «infundadas» para a ARS
Entretanto, face a tanta sugestão e confusão, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro veio a terreiro classificar de «infundadas» as considerações sobre o futuro CHBI e a localização dos blocos de partos. Num comunicado divulgado na terça-feira, a assessoria de imprensa de Fernando Regateiro, presidente da ARS Centro, garante que a criação do Centro Hospitalar está «em desenvolvimento», mas a sua constituição é «complexa» por envolver três unidades hospitalares com um «histórico próprio». O que requereu «uma percepção aprofundada das vantagens, quer pelos profissionais de saúde envolvidos quer pelos parceiros sociais e população em geral», pelo que ainda não há uma decisão tomada sobre a sua constituição, «muito menos uma data fixa para o anúncio da sua criação», sublinha o comunicado. Quanto aos blocos de partos, a ARS Centro recorda o despacho de Correia de Campos, que remete a decisão para uma proposta do futuro Conselho de Administração do CHBI. E esclarece que a decisão, quando tomada, «não colocará em causa o seguimento, em consultas de proximidade como actualmente existem, para as grávidas e os recém-nascidos».
Luis Martins