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A Esquecida Questão do Mérito

Havia antigamente nas escolas o “Quadro de Honra”, que servia para distinguir os melhores alunos e era divulgado nos jornais locais. O ano escolar terminava, se bem me lembro, com entrega de prémios aos melhores. A coisa, considerada elitista, foi banida pouco depois do 25 de Abril. O igualitarismo então reinante entendia vagamente que o mérito, ou o que era classificado como tal, resultava sobretudo das circunstâncias de cada um e era consequência natural dos privilégios das classes mais favorecidas.

O mesmo espírito, ou algo parecido, esteve por detrás das carreiras profissionais negociadas por sindicatos e associações profissionais nos contratos colectivos de trabalho. A promoção de caixeiro de 2ª para caixeiro de 1ª, por exemplo, deixou de depender de um exame ou de algum tipo de avaliação de mérito para depender apenas, numa primeira fase, de três anos de “boa e efectiva prestação de funções”. Depois, como era algo ambíguo definir o que se entendia por “boa” e por “efectiva”, e porque isso deixava um indesejável grau de discricionariedade ao patrão, a promoção passou a ser automática. Pouco depois, a passagem de aprendiz a oficial de primeira passou a ser possível com a simples passagem do tempo, de tal forma que a designação da categoria profissional deixou de ser garantia de qualidade do serviço. Diga-se já agora que os patrões também não estiveram bem, como continuam em geral a não estar, e se tivessem a possibilidade de classificar os seus trabalhadores com recurso a critérios meramente subjectivos, classificavam todos como serventes e profissionais de 3ª – o que permitisse pagar os salários mais baixos.

Quando se começou a falar do “ranking das escolas”, logo se levantaram vozes contra essa classificação. Dizia-se que era injusto comparar o incomparável, que as circunstâncias de cada escola, desde as suas condições materiais à qualidade dos seus professores e às condições sociais dos seus alunos, tornavam injusta qualquer hierarquização. Não perceberam os detractores do ranking, ou fingiram não perceber, que um dos interesses deste podia ser precisamente avaliar esses factores e a sua evolução ao longo do tempo. Não quiseram ainda que essa informação fosse prestada aos pais, não fossem eles escolher uma escola para os filhos em função da sua classificação.

E é assim que, depois das dificuldades que tivemos para saber quais as melhores escolas, vamos ter outras ainda maiores para identificar os bons e os maus professores. E é assim também que o futuro das nossas crianças e dos nossos jovens, mais do que dependente do seu próprio mérito e da capacidade de escolha dos seus pais, depende em grande parte da sorte.

Por: António Ferreira

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