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A esperança intranquila

A Saúde é um dos temas mais mediáticos, mais comentados e de maior impacto na sociedade. Na maioria das vezes, infelizmente, pelos piores motivos. Nalguns casos, a apreciação que é feita poderá parecer injusta ou infundada mas não deixa de ser natural que a exigência numa área tão sensível possa dar azo a comentários mais assertivos ou mais exacerbados. A Saúde, ou a falta dela, coloca as pessoas em situações de fragilidade que é preciso prevenir.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sido alvo de muitas preocupações e as decisões tomadas à sua volta têm sido muitas vezes contestadas. Este aspeto deve merecer alguma compreensão e até motivar a reflexão de quem toma essas decisões. Muitas vezes más decisões.

A Ordem dos Médicos, entre outras organizações e personalidades, tem sido incansável na defesa do SNS e dos doentes, incansável também na apresentação de alternativas.

O SNS está a atravessar um tempo de incertezas e dificuldades que não devem ser desmentidas nem desvalorizadas.

Mas este momento do ano é um momento diferente. O 15 de setembro é o dia nacional do SNS, que foi criado há precisamente 36 anos.

É um momento para refletirmos sobre o que o SNS trouxe de bom aos portugueses, sobre o seu papel no nosso bem-estar individual, sobre o seu papel social, humanista e solidário, sobre o seu trajeto durante estas três décadas e, sobretudo, sobre a sua influência na saúde dos portugueses.

O balanço é francamente positivo se considerarmos os índices de saúde, o nível de acesso e a equidade do sistema público de saúde português desde a sua criação. Os progressos feitos são notórios e impressionantes quando percebemos que ultrapassamos muitos países desenvolvidos, mesmo aqueles que mantêm níveis económicos e sociais muito superiores a Portugal. A esperança de vida à nascença aos 80,24 anos, a esperança média de vida aos 65 anos de quase mais 20 anos, a taxa de mortalidade infantil de 2,8 por 1.000 nados-vivos, o desenvolvimento tecnológico, a rede de unidades hospitalares – entre outros – demonstram que o SNS não se limitou a acompanhar o progresso dos países desenvolvidos mas soube colocar-se como um exemplo raro de sucesso. Continua a ser notável a desproporção entre o magro financiamento do SNS (6-7% do PIB nestes últimos anos) e os impressionantes ganhos em saúde.

O SNS é, provavelmente, dos melhores investimentos da Democracia em Portugal. Soube solidificar a Liberdade e as conquistas sociais e soube reunir à sua volta um amplo consenso em toda a sociedade.

O SNS é resistente mas não é inquebrável.

A esperança é uma marca permanente do SNS mas os doentes devem manter uma exigência permanente, os profissionais devem continuar a fazer prova do seu valioso empenho e os dirigentes políticos devem assumir as suas verdadeiras responsabilidades.

Este momento é de esperança que não devemos perder.

Uma Esperança intranquila de quem sabe que as conquistas deixaram de ser adquiridas e eternas.

Por: Carlos Cortes

* Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos. Escreve mensalmente

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