1. O ano de 2015 fica para a história como o ano do imprevisto e da mudança. Do imprevisto porque Portugal termina o ano como poucos poderiam prever; com um governo socialista com apoio parlamentar da esquerda que ninguém vaticinou; com um acordo genérico da esquerda que contraria o designado arco da governação e sustenta um governo que emana de uma maioria parlamentar e não da vitória individual (e minoritária) de uma força política. Aprecie-se ou não, tudo isto é per si uma extraordinária mudança. E é uma mudança que determina o próximo futuro de Portugal e dos portugueses.
O ano de 2015 é um ano de mutação, depois dos «piores anos das nossas vidas». 2015 representa o tempo novo que chega, o tempo em que acreditamos que o pior já passou (ainda que não tenha passado), que os anos de austeridade, da Troika e do empobrecimento coletivo serão sucedidos por recuperação económica e especialmente social – porque a sociedade portuguesa está deprimida e cansada de sacrifícios sem resultados.
2015 ficou marcado pela ascensão de António Costa à liderança de um governo que tem imensas obrigações e o enorme desiderato de nos fazer esquecer a austeridade, mesmo que não haja margem e disponibilidade para evitar políticas rigorosas e racionais. Mais importante do que continuar a olhar pelo retrovisor é olhar em frente e acreditar que as mudanças permitirão relançar o país na senda da modernidade e progresso. As gerações perdidas, os jovens que ficaram, os resilientes, os desempregados, os empresários, os audazes, os empreendedores, os que arriscam, os que acreditam que têm lugar em Portugal e que é possível construir um novo país, agradecem. Depois virão de novo eleições e novos eleitos, e que ganhem os melhores ou os menos maus, mas, até lá, aproveitemos. E sejamos otimistas para 2016…
2. Enquanto as luzes, os brindes, os anões e as renas da “Cidade Natal” recebiam todas as atenções e elogios dos guardenses e até dos forasteiros, do outro lado da cidade respirava-se nostalgicamente cultura. Enquanto na Praça Velha a folia atrai milhares de pessoas, no Café Concerto respirou-se introspetivamente uma vida que a Guarda teve e perdeu – só damos valor ao que temos quando o perdemos! E, na verdade, a Guarda pode andar muito agitada por estes dias, mas a vida cultural é hoje muito mais pobre. Por isso, enquanto o júbilo natalício perpassa todos os ouvidos, o espetáculo “Bartleby”, pelo Teatro Calafrio, no TMG, seguido de boas conversas no Café, e, dia 26, a poesia ao nascer do dia de Alberto Pimenta por Américo Rodrigues, o projeto da escultura de D. Sancho I de António Duarte, a arte performativa de José Neves e tantos outros momentos de rebeldia e arte que sabe bem saborear. Ainda bem que a Guarda tem esta dimensão.
Luis Baptista-Martins