1. Rui Rio venceu de forma confortável as “diretas” do PSD. Não foi uma vitória esmagadora, nem humilhante para Santana Lopes, mas foi uma vitória clara e inequívoca. E se é certo que Santana arrancou mais tarde, também é verdade que conseguiu juntar à sua volta a maioria dos “passistas” e da máquina partidária que nos últimos oito anos dominou o partido, o que lhe deu muita vantagem em termos de organização e apoios. Por isso, a vitória de Rio era mais difícil. Mas previsível: porque ninguém se tinha esquecido do passado de Santana e porque os militantes cedo perceberam que para regressar ao poder tinham definitivamente de enterrar a imagem do “diabo” e apostar num discurso novo e credível. O PSD apostou num novo rosto, numa nova liderança, ainda que para muitos com os dias contados – as próximas legislativas. E se Rio não conseguir vencer Costa, já sabemos, estará disponível para se juntar a ele, para sua própria sobrevivência, para afastar a extrema-esquerda do governo e para recuperar algum poder e influência para o partido. Até lá, muita água passará por baixo das pontes. Rio poderá disciplinar o partido, como pretende, e dar-lhe mais força (mas para isso terá em primeiro lugar de o unir); ou poderá “rebentar” com as estruturas e dividir definitivamente as bases. Para já, recebeu um cheque em branco, numas eleições pouco mobilizadoras para mudar um ciclo.
No distrito da Guarda, sem surpresa, Rui Rio foi o mais votado. E, surpreendentemente, na Guarda ganhou Santana Lopes!!
Álvaro Amaro é hoje um dos apoios mais importantes de Rui Rio e estará, seguramente, entre os dirigentes nacionais mais relevantes. A distrital da Guarda dirigida por Carlos Peixoto, um indefetível de Amaro, esteve na primeira linha do apoio ao antigo presidente da Câmara do Porto. Os mais próximos do presidente da Câmara da Guarda (e o próprio Álvaro Amaro) deram a cara e promoveram o apoio ao novo presidente do PSD. Em consequência, ainda que Álvaro Amaro diga que não pediu votos para Rio, conhecidos os resultados na Guarda, o primeiro a perder foi o presidente da Câmara. E também a estrutura partidária por ele patrocinada e ainda o presidente da Junta da Guarda, João Prata. O distrito apostou em Rio, mas, estranhamente, onde a influência de Álvaro Amaro se esperava mais decisiva foi a candidatura contrária que ganhou. A forma como a distrital anunciou o apoio a Rio, ao arrepio dos militantes, e como Álvaro Amaro gere o partido na Guarda, sem ouvir ninguém, deu nisto: o concelho que domina é aquele onde o partido está mais dividido (já em 2013, o candidato imposto por Amaro para a concelhia, Sérgio Duarte, foi humilhado inesperadamente por Jorge Libânio). Esta “derrota” não terá qualquer consequência, nomeadamente no ascendente de Amaro junto do novo presidente do PSD, mas internamente deveria obrigar à reflexão e ao clarificar de posições de militantes na Guarda.
2. O PS vai a eleições para as concelhias, mas são as eleições para a federação distrital que agitam profundamente o partido. António Saraiva, que teve um mandato complicado, por erros próprios (como a exigência de “tachos”) que o fragilizaram, mas essencialmente por circunstâncias externas que não soube gerir (como a candidatura à Câmara da Guarda onde, depois de Joaquim Carreira deixar o PS pendurado, teve de apoiar o seu “concorrente” na distrital Eduardo Brito, não evitando uma derrota humilhante – para os candidatos, para o PS e para o seus dirigentes locais e distritais). António Saraiva devia ter sido o candidato do PS à Guarda, apesar de todos os “apesares” era de longe o melhor para resistir à avalanche Álvaro Amaro e “aguentar” o PS – não teve arte, nem solidariedade partidária, nem mérito para se afirmar. Agora, o PS está extraordinariamente dividido e as candidaturas à federação distrital podem ser mais uma forma de dividir os socialistas. Saraiva ainda não falou, Brito vai retirar-se, depois da humilhação na Guarda, apoiando Pedro Fonseca (que foi o segundo de Brito na Guarda e não retira qualquer ilação pessoal do péssimo resultado nas autárquicas), Alexandre Lote avança em nome da renovação do PS e José Luís Cabral pondera se deve candidatar-se para iniciar a recuperação do PS a partir, de novo, de Celorico da Beira. O “cheiro” do poder em Lisboa não chega à Guarda e os lugares políticos “pedidos” não aparecem… e “em casa onde não há pão todos ralham” mesmo sem terem razão! A falta de poder e “tachos” na Guarda levam o PS para a amargura da irrelevância, divisões e guerras internas.
Luis Baptista-Martins