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A Espanha

«EXIT» Aznar, viva a Cultura em Espanha? Se não é isto, parece isto. A fazer fé num escrito de há dias no «Público», a cultura espanhola está «eufórica com a queda de Aznar e cineastas, músicos, escritores e artistas plásticos» mostram-se agora «mais optimistas» porque com o PP «longe do Governo» acreditam que a Espanha tem hoje uma «oportunidade» e a cultura «também». Estranhei. Ignorava que a cultura vizinha – e a própria Espanha! – necessitassem de «oportunidades». Nenhum país ficou tão em relevo nos últimos anos no mapa da Europa como a Espanha. Nenhum cresceu tanto mas acresce que, no caso, as contas do êxito económico acertam com as parcelas dos (extraordinários!) sucessos culturais. Ou seja, os algarismos do PIB não geraram apenas riqueza mas igualmente pujança cultural. Basta viajar um pouco ou ler os jornais internacionais para ver o formidável sulco aberto pela pátria aqui do lado e observar o tamanho do seu lugar cativo. Na sua cultura, tudo, absolutamente tudo, foi já catapultado para as melhores moradas do mundo: a música, os cantores operáticos, o cinema, a literatura, a pintura, a arquitectura, a moda, a gastronomia, o desporto. Para não falar na invejável qualidade do desenvolvimento que agora conhecem muitas cidades espanholas, das maiores às menores, e nos aliciantes «lugares de vida» em que elas se estão transformando. (Alguém foi a Valência, ultimamente, ou mesmo a… Badajoz?) A Espanha conseguiu o feito de recuperar o património e a história fazendo-o «naturalmente» coexistir com a mais arrojada e inventiva arquitectura. Não é novo nem inédito mas o resultado, esse sim inédito, produziu um novo conceito de cidade, talvez ímpar na Europa. Estou à vontade com os vizinhos: em vez de ter vergonha, tenho pena e, em vez de complexos, sinto admiração pelo que eles são capazes de fazer e eu não. Franco tratou melhor o seu povo do que Salazar nos tratou a nós: deixou-o menos humilde, menos provinciano e mais instruído. E, depois, após os anos de chumbo do pós-guerra, quando ainda andava de alpergatas e tinha fome, o país levantou a cabeça e acelerou. Até hoje. Os espanhóis foram bons com Suarez, González ou Aznar, como agora irão ser com o modesto Zapatero. Este fôlego admirável e esta intensa energia criativa não é encaixável nos limites das fronteiras partidárias, nem explicável apenas segundo a cor ou o perímetro dessas fronteiras. Mas provavelmente terei que me render ao ar do tempo. Apesar de a Espanha estar campeã de tudo e sobretudo na cultura, continua a ser um imperativo politicamente correcto a Esquerda reclamar para si o exclusivo da cultura e os artistas pagarem-lhe da mesma moeda, tendo vergonha da Direita, como agora. A ponto de disfarçarem ou negarem os seus próprios sucessos pelo facto de terem coincidido no tempo com uma bandeira conservadora que tanto os enjoa.

Não é grave, é apenas estúpido.

Por: Maria João Avillez

Rede Expresso

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