Desde 2002 que o preço do petróleo tem vindo a aumentar de forma galopante. Esse aumento intensificou-se nas últimas semanas, com o preço do petróleo a atingir valores muito próximos dos 100 dólares e do seu valor máximo atingido em 1979.
Quais são as causas para este aumento do preço do petróleo? Por um lado, um grande aumento da procura, provocado pelo grande crescimento da economia mundial nos últimos anos, em particular da economia chinesa. Por outro lado, uma diminuição no ritmo de crescimento da extracção e refinação de petróleo. As reservas têm aumentado, mas o custo de extracção e de refinação é cada vez mais elevado.
A combinação daqueles dois factores tem resultado numa cada vez maior sensibilidade dos preços a alterações nas condições da oferta e da procura: furacões no México; uma crise política no Médio Oriente; a ameaça de um Inverno muito rigoroso nos Estados Unidos; são suficientes para provocar variações bruscas nos preços do petróleo.
Existe uma intensa discussão entre os economistas sobre o efeito que os aumentos do preço do petróleo têm na economia. Os grandes aumentos do preço do petróleo nos anos 70 e 80, conhecidos por ‘choques petrolíferos’, têm sido associados às graves crises económicas vividas durante esse período. Por outro lado, o forte crescimento da economia mundial durante a década de 90 coincidiu com um período de forte baixa no preço do petróleo. No entanto, apesar da subida de preço desde 2002, a economia mundial tem crescido de forma muito robusta. Ou seja, os factos não são claros relativamente ao impacto das variações do preço do petróleo no crescimento das economias.
Mas quais poderão ser os efeitos para a economia mundial se o preço do petróleo se mantiver nos actuais níveis ou se aumentar ainda mais? As nossas economias consomem grandes quantidades de energia e esta continua a ter como principal fonte o petróleo. Assim, no curto prazo, não é de esperar que o aumento do preço do petróleo resulte numa diminuição do consumo, visto que o consumo de petróleo resulta da estrutura produtiva dos países e dos seus hábitos de consumo. No curto prazo podemos ter um aumento dos custos das empresas e logo da inflação e, simultaneamente, um aumento do desemprego. Este foi o resultado nos anos 70.
No médio prazo, como se viu com os choques petrolíferos dos anos 70 e 80, as economias reagem muito às subidas do preço do petróleo, diminuindo o seu consumo. Em 2006, a importância do petróleo no produto americano é metade do que era em 1973. Actualmente já há sinais de uma menor procura de petróleo nos países desenvolvidos.
Do lado da oferta, nos países importadores de petróleo os sinais mais visíveis dos efeitos do aumento do preço do petróleo são a aposta cada vez mais clara em energias alternativas, em particular nas energias renováveis.
Em Portugal, um dos países mais dependentes do petróleo da União Europeia, as ventoinhas, que exploram a energia eólica, começam a fazer parte da paisagem. E, recentemente, o governo anunciou a construção de mais 10 barragens que permitirão aumentar a exploração do nosso potencial de energia hidráulica dos actuais 45% para cerca de 90%. Surpreendentemente, o Governo não aceita até agora discutir o nuclear. Apesar dos custos que o aumento do preço do petróleo traz para a economia no curto prazo e que todos sentimos directamente quando reabastecemos os nossos automóveis, no médio e longo prazo a substituição do petróleo por energias alternativas pode vir a revelar-se muito vantajosa.
Em primeiro lugar, o ambiente fica a ganhar. Em segundo lugar, o ocidente deixará de estar dependente de um recurso que se encontra em grande medida concentrado em países governados por ditadores que procuram beneficiar da nossa dependência daquele recurso escasso.
Por: Fernando Alexandre