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A Divindade LAEPO

Nos Cantos do Património

Com a publicação da inscrição rupestre do Cabeço das Fráguas (Benespera / Guarda) Adriano V. Rodrigues deu a conhecer à comunidade científica 5 divindades lusitanas, entre elas LAEBO, a quem era sacrificado um leitão.

Em 1984 Curado publicou duas aras, provenientes da Quinta de S. Domingos, no sopé do Cabeço das Fráguas, onde é referida a divindade LAEPO. Apesar da semelhança entre os nomes, ainda hoje não sabemos se correspondem à mesma divindade, apesar de terem a mesma raiz, laipo. O autor deu ainda a conhecer outras duas aras, uma delas também dedicada a LAEPO, publicada por Leite de Vasconcelos e a quarta anepígrafe (sem qualquer inscrição).

Desta forma, num pequeno espaço – as aras surgiram nas proximidades da capela – apareceram três inscrições dedicadas à mesma divindade, sugerindo que esta seria a protectora do povoado de período romano, a quem os habitantes prestavam homenagem.

O facto de terem sido encontradas próximas poderá sugerir a existência de um templo, onde seriam colocadas diversas aras. Numa das nossas deslocações ao local detectámos uma pedra de grandes dimensões, almofadada, sugerindo ter pertencido a um edifício monumental, possivelmente um templo, semelhante ao templo de Orjais (Covilhã).

Por outro lado, a existência de quatro aras publicadas por Curado, duas por Marcos Osório (do mesmo local) e a referência a 15 aras por Adriano V. Rodrigues são um registo incontestável da existência de uma oficina lapidar, ou seja, existia na Quinta de S. Domingos uma oficina que talhava dos blocos graníticos, recolhidos nas proximidades, estes pequenos monumentos.

Estas aras são construídas segundo os cânones clássicos romanos, com a divisão entre base, fuste e capitel, exibindo os elementos clássicos, como os toros, o frontão triangular e o foculus. É curioso como uma comunidade de indivíduos locais, indígenas, sofreu um processo de aculturação relativamente elevado, levando à alteração dos seus nomes, dos seus hábitos e costumes. Todavia, nem todos os elementos eram modificados, demonstrando um certo apego à tradição e cultura, como é o caso da religião.

Desta forma, torna-se evidente que a epigrafia desempenha um papel preponderante na investigação arqueológica, pois embora não tenham sido realizadas sondagens arqueológicas, sabemos desde já da existência de um templo, de uma oficina e quais os habitantes deste aglomerado urbano.

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