«Quando a arte ou os factos históricos se tornam recomendáveis, convertem-se em capital produtivo» (Alexandre Herculano)
A dimensão económica do património cultural tem sido, ao longo do tempo, encarada com alguma relutância. Ainda hoje, as razões elencadas para a preservação do património raras vezes referem as questões económicas, como se elas não existissem ou não fossem consistentes. Para os autores neoclássicos dos anos 30 do século XX, com prolongamento no pós-guerra, de que John Keynes é o mais conhecido representante, a atividade cultural era uma ocupação improdutiva, não se situando, por isso, no terreno da economia. Aqueles autores assemelhavam os museus aos bares em virtude da pouca procura que ambos tinham, fechando o assunto sem mais discussão. Esta posição, que negava a relação entre economia e cultura, foi enfraquecendo face ao papel cada vez mais relevante que a cultura foi desempenhando na criação de emprego e na produção de riqueza, designadamente no âmbito das indústrias culturais, o que serviu para alterar a relação entre cultura, economia e valorização do território, abandonando-se progressivamente o modelo conservacionista que delegava o domínio da cultura aos técnicos e funcionários das instituições públicas, sem contudo lhes atribuir os fundos financeiros suficientes para a conservação e divulgação da cultura e do património.
Com efeito, uma nova conceção de cultura emergiu nos anos 80 do século XX, e a partir da década de 90 assistiu-se ao reforço do relacionamento entre economia e cultura. Esta transição produziu um crescimento exponencial do turismo cultural que passou a constituir uma força motriz capaz de dar suporte a uma nova base conceptual que atribui aos bens culturais a capacidade de produzir riqueza, colocando-os na categoria económica.
A linha de raciocínio que aqui desenvolvemos constata que a associação entre o património cultural e o desenvolvimento local é, sem dúvida, um desafio. Antes de mais porque o reconhecimento lento da dimensão económica do Património ainda não é uma realidade geral, e também porque as iniciativas locais, das quais depende, em grande parte, a valorização do património histórico, não asseguram processos endógenos de desenvolvimento do território local. A solução mais comum para transformar o Património em recurso endógeno de desenvolvimento local, passa pela formulação de uma estratégia de utilização deste recurso com a finalidade de o adaptar para o turismo, uma vez que para além de património possui capacidade de atração turística. Esta oferta turística que se apoia no património cultural designa-se genericamente por Turismo Cultural, e consiste na deslocação de turistas a locais de reconhecido valor histórico e arqueológico, onde se podem percecionar vestígios de sociedades pré-históricas ou históricas. Estes locais encontram-se por quase todo o país e são o fruto direto do trabalho duro e persistente de arqueólogos e historiadores que incansavelmente procuram cumprir o seu compromisso com a cultura e com a história dos povos. já que nenhum historiador, qualquer que seja a sua esfera específica de ação, se pode alhear dos problemas da proteção do Património.
Por: José Quelhas Gaspar