“Nunca ninguém teve dúvidas que a verdade e a política estão em bastantes más relações, e ninguém, tanto quanto saiba, contou alguma vez a boa fé no número das virtudes políticas” – Hannah Arendt
Ao longo da história do pensamento sempre se discutiu a relação entre a verdade, a ética e a política, entendendo-se esta relação uma vezes como necessária e complementar outras como antagónica e conflituosa.
Hoje é comum na vox populi considerar a política como a arte do engano e entender a mentira como um dos instrumentos fundamentais do homem de estado. Esta concepção foi defendida por Maquiavel, que entende a politica e a ética como duas dimensões antagónicas, estando colocadas nos pratos opostos da mesma balança. Quando aumenta uma, diminui a outra.
Contudo, a política começou por ser entendida de maneira muito diferente. Ela significava, e deve continuar a significar, a participação na vida da cidade. O político, tal como Aristóteles o define, é aquele que procura alcançar o Bem Comum. Podemos todos criticar a política, mas ela é indissociável da nossa vida em sociedade, o “homem é por natureza um animal político”.
Mas este ataque à política estende-se aos partidos políticos. Eles pertencem à nossa história recente, pertencendo ao conjunto de instituições que estão ligadas ao aparecimento da modernidade. A democracia, o governo do povo, foi inicialmente directa, podendo os cidadãos participar nas assembleias e nas decisões da cidade. Contudo, tal como acontecia em Atenas, só uma percentagem diminuta de cidadãos iam às assembleias. A passagem da democracia directa para a democracia representativa implicou o aparecimento de organizações que tivessem a capacidade de representar ideologicamente um sector da sociedade, que congregassem as suas ideias e os seus projectos. Paulatinamente, as diferentes organizações sociais, sejam de cariz laboral ou religioso, transformaram-se em partidos políticos. O aparecimento da democracia representativa, tal como nós hoje a conhecemos, está intimamente ligado ao emergir dos partidos políticos.
Todos nós podemos criticar a política e os partidos, mas eles são a essência deste modelo de organização social em que estamos inseridos.
A oportunidade destas considerações resulta do momento político que estamos a viver. Apresentadas as listas, irá começar a campanha eleitoral. A riqueza da democracia reside na sua pluralidade, no confronto de ideias, na capacidade dos diferentes partidos apresentarem projectos alternativos para melhorarem a qualidade de vida dos cidadãos. Mas a sua fragilidade é quando o debate político desce ao insulto, à maledicência, ao domínio privado das pessoas e famílias. É importante, cada vez mais, não confundir liberdade com libertinagem. A minha liberdade tem como limite a liberdade do outro, ela implica responsabilidade. Sartre afirmou que “o homem está condenado a ser livre” e, como tal, responsável pelos seus actos. Ao contrário, a libertinagem não tem limites, pertencendo não à dimensão humano, mas sim à dimensão animal.
O respeito que a democracia nos merece, deve levar todos os actores políticos a fazer do debate político um debate de ideias e projectos, nunca confundindo a opinião com o insulto, o domínio público com o domínio privado.
No próximo dia 11 de Outubro, os eleitores irão escolher os seus representantes para os diferentes órgãos autárquicos. Esta decisão livre de cada um representa acima de tudo um acto de confiança nas pessoas que estamos a escolher. Os cidadãos irão votar no candidato em que podem acreditar, naquele que já tem obra feita, naquele tem projectos para o futuro, naquele que representa o progresso e o desenvolvimento para o concelho da Guarda.
A escolha política será certamente determinada pela experiência do passado e pela capacidade de projectar o futuro. Mas a esta escolha não será indiferente as qualidades humanas e morais dos diferentes candidatos.
Por: Virgílio Bento *
* Presidente da concelhia da Guarda do PS