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A cultura do lagar no Museu do Azeite

Novo núcleo museológico de Belmonte poderá entrar na Rota dos Lagares a criar pela Confraria do Azeite da Cova da Beira

Um novo espaço de memória e tradição abriu as portas na última segunda-feira em Belmonte para preservar as mós, as prensas, as termobatedeiras e os restantes materiais que produziram o azeite da vila até 1995. O Museu do Azeite, edificado no antigo lagar adquirido pela Câmara em 1991, é, após o Eco-Museu do Zêzere e o Museu Judaico, o terceiro de cinco museus temáticos que a autarquia está a desenvolver para preservar o património da vila.

Resta agora inaugurar «até ao final do ano» os dois núcleos museológicos do castelo dedicados a Pedro Álvares Cabral e à Descoberta do Brasil para que a vila se possa finalmente afirmar como um «destino turístico cultural, histórico, religioso e ambiental», salientou o autarca local. Amândio Melo acredita que o concelho «vai ter futuro» com este percurso. Preservando a memória do antigo lagar, o arquitecto Renato Neves, responsável pelo projecto, manteve a área museológica no piso inferior num estilo que conjuga o novo com o antigo (madeira, ferro, vidro e pedra). No piso inferior, pode-se contemplar o motor, o moinho, a termobatedeira, a bateria, as prensas, a caldeira, a centrifugadora, o hélice para misturar a pasta, as chaves das prensas e os restantes materiais usados na laboração. Pelo chão, de vidro, encontram-se gravadas algumas das terminologias ligadas à olivicultura, como a contra-safra (mau ano de produção) ou o padegar (acto de atirar as azeitonas recém-colhidas no ar).

O piso superior está reservado à recepção, relembrando assim a antiga área de armazenamento e escritório. «A nossa preocupação fundamental foi manter a maquinaria que existia e mostrar como era o funcionamento original do lagar», explica o arquitecto, revelando que o equipamento existente «é o mesmo e está no mesmo sítio do antigo lagar». Para criar mais realismo, o arquitecto tentou ainda preservar a cor original dos instrumentos provenientes da Metalúrgica Duarte Ferreira, que na transição para o século XX manteve o azul-anis como cor dominante das prensas, rodas e batedeiras. O exterior do edifício sofreu também intervenções paisagísticas para que os visitantes possam desfrutar das belas paisagens dos olivais e do Rio Zêzere, que corre nas traseiras do edifício. O Museu do Azeite poderá entrar na Rota dos Lagares que a Confraria do Azeite da Cova da Beira está a criar, adiantou o chanceler Francisco de Almeida Lino, por ser «um belo exemplo» de valorização do azeite. «Preserva a cultura edificada e dá uma palavra de estímulo aos olivicultores», considera, por relembrar que o azeite é «o melhor produto de Portugal».

As obras, iniciadas em Maio de 2003, custaram mais de 600 mil euros, comparticipadas em 70 por cento pela Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) da Serra da Estrela, prevendo-se ainda a construção de um restaurante para completar o museu.

Liliana Correia

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