Arquivo

A Covilhã em meados de 2014

Bilhete Postal

Primeiro foi um dirigente desportivo que achava que ia ganhar ao Benfica. A Covilhã foi capa de revistas e jornais desportivos. Um momento de “imodéstia” que rendeu entrevistas e conversas de televisão por cabo. Decorriam os meados de outubro de 2014. Na mesma semana, a Universidade da Covilhã homenageou com doutoramento a personagem que levou à bancarrota a mais emblemática empresa portuguesa. É um filho do Cavaquismo, um rapaz que nasceu para os negócios pela mão de Murteira Nabo, que foi levado ao colo por Cavaco Silva quando destruíram a Marconi para construir a PT. Foi entre 1985 e 1997 que se fez tudo isto, associado ao regresso dos Espírito Santo. A PT entregou pela mão deste “filho” da Covilhã, 897 milhões de euros, irrecuperáveis, para a Rioforte, empresa de Ricardo Salgado, membro do clã Espírito Santo. A Covilhã esteve nos telejornais. Foi em meados de 2014. Os “dez dias de glória” de 2014 seguiram com a Câmara a homenagear o seu filho José Sócrates, em resposta à condecoração da UBI a Zeinal Bava. Assim se falou do clube – o Sporting da Covilhã, da Universidade da Covilhã e depois da Câmara. Decorria o meio de outubro. Resultado de tudo isto foi uma derrota do Sporting com as esperanças do Benfica e uma condecoração a um homem que está sob investigação do Ministério Público.

O “finalmente” é a glória de José Sócrates. O erro é meu porque não vislumbro mais que um país endividado, uma série de favores políticos que condenaram o país a uma administração pública ruinosa e carregada de funcionários, uma escalada de dívida que ainda está a crescer pela mão das PPP, dos contratos Swap, das obras públicas que estão abandonadas ou por utilizar, dos compromissos irrealistas na Parpública (Participações Públicas, SGPS, SA, Sociedade Gestora de Participações Sociais de capitais exclusivamente públicos) da aposta na nacionalização do BPN, na ausência de pedido de responsabilidades aos criminosos fiscais, na dívida astronómica dos estádios de futebol. Eu tenho dificuldade em ver para lá da realidade que, em 2007, denunciei de modo claro e transparente. O Portugal cinzento, submetido a esta violência dos credores, deveu-se a um PS irrealista, irrefletido, mas evidentemente com uma estratégia deslumbrada e nalguns pontos inovadora e interessante. Eu que sou azedo diria que para homenagear estão centenas de portugueses que cuidam das suas empresas, centenas de empresários que aumentaram as exportações, centenas de homens e mulheres que apesar do cansaço fiscal vão conseguindo manter os salários e investindo o seu dinheiro (não o do Estado ou o dos bancos).

Presumo que haverá trabalho excelente na UBI para exaltar e propagandear. Condecorar o maior falhanço empresarial português é que parece excessivo. A UBI e a Câmara têm de honrar com medalhas e chaves o Ricardo Salgado, o Arlindo de Carvalho, o Henrique Granadeiro, o Jardim Gonçalves, o Almerindo Marques e tantos outros que vivem entre a política e os negócios! A Covilhã teve uma semana de erros de cenário, de falhas nos protagonistas, de gargalhada dos cidadãos. Houvesse juízo e bom senso e eu mandava-o chover na Covilhã.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply