P – Que importância tem para si presidir à comunidade judaica de Belmonte?
R – Cada comunidade necessita de um líder que possa satisfazer as suas necessidades e aspirações. Desta forma, decidi aceitar o desafio de presidir à comunidade judaica de Belmonte, responsabilizando-me pelos seus compromissos e deveres, bem como pela tomada de decisões que permitam alcançar o bem-estar do grupo que represento e de cada membro em particular. Penso que somos uma comunidade especial dentro do judaísmo e a nossa religião é atualmente reconhecida em todo o mundo pela nossa persistência na manutenção da fé e costumes judaicos. Por isso, é para mim um orgulho e uma honra poder representar esta comunidade. Estar nesta posição, em que posso definir as diretrizes e a forma que deve tomar a comunidade, dá-me uma grande alegria e um profundo compromisso para atender àqueles que confiam nas minhas capacidades.
P – Que projetos e objetivos pretende implementar neste mandato?
R – A prioridade é manter nossa comunidade viva, em contacto com Israel, mas também promover uma interação constante com a sociedade de Belmonte, reforçando os laços de amizade e aumentando as atividades de ajuda mútua.
É muito importante que, no meu mandato, continuemos ativos e eficientes de forma a podermos dar força aos projetos necessários na nossa comunidade. Entre estes, destaco o reforço do conhecimento do judaísmo em língua hebraica, a promoção do contacto direto, vivo e satisfatório com os grupos que nos visitam e promover uma interação mais dinâmica na receção daqueles que vêm para conhecer e apoiar esta comunidade.
P – Referiu que pretende ampliar o cemitério judaico de Belmonte. Até que ponto é premente esta obra?
R – As nossas famílias residem em Belmonte, terra que nos recebeu há muitos anos e à qual estamos gratos, pois sempre nos sentimos integrados e assistidos em diferentes ocasiões. Assim, tenho que pensar no futuro e especialmente no lugar onde os membros da comunidade irão descansar para a eternidade. Saliento que cada cemitério judeu é zelosamente cuidado e preservado em todo o mundo e o cemitério judaico de Belmonte precisa neste momento de algumas melhorias. Por exemplo, são necessários trabalhos na casa de lavagem ritual, para a dotar dos elementos necessários ao trabalho de pureza mortuária, de modo a que este seja realizado em boas condições. Além disso, no nosso cemitério devemos ter a capacidade necessária em termos de espaço, bem como a educação e a preparação de uma Jevra Kadisha, que consiste numa sociedade sagrada encarregue de preparar o corpo do falecido para o repouso na sua última morada.
P – Qual a dimensão da comunidade judaica a que preside?
R – A nossa comunidade tem atualmente cerca de 150 pessoas. Pode parecer pequena, mas religiosamente é a mais ativa e participativa de Portugal.
P – Vê com bons olhos a recente aposta no turismo judaico?
R – Considero que a aposta no turismo judaico é uma medida de promoção que contribui para divulgar a nossa cultura, mas também a cultura portuguesa. Além disso, tem reflexos positivos noutros aspetos, como, por exemplo, no emprego. Defendo que a nossa comunidade deve desempenhar um papel importante no desenvolvimento deste tipo de turismo, pois tem cada vez mais representatividade e é fundamental que saibamos receber quem nos visita e dar a conhecer a nossa história e as nossas tradições. Julgo que este tipo de turismo é muito importante e representa nos tempos que vivemos uma aposta completamente acertada e inteligente.
P – Considera que a comunidade judaica é atualmente respeitada e considerada em Portugal?
R – A nossa comunidade é respeitada por Israel e pelo mundo judaico e recebemos permanentemente o apoio de Jerusalém pela organização Shavei Israel, que nos providencia a assistência de um rabino. Em Portugal, penso que também somos respeitados. Há conhecimento e consideração pela nossa cultura, valores e tradições e esta aceitação é a chave para que a comunidade judaica de Belmonte se sinta parte integrante da vida local.
P – O que poderia ser feito para aumentar esse reconhecimento?
R – Como referi, penso que a comunidade judaica é reconhecida e respeitada, mas há coisas que poderiam ser melhoradas. Considero, por exemplo, que seria importante melhorar as condições de receção aos turistas judeus que nos visitam constantemente de modo a que estes se sintam acolhidos, e que a sua visita não se destine apenas ao conhecimento, mas também ao estabelecimento de uma amizade recíproca. Além disso, se quem nos visita se sentir bem, vai ficar mais tempo e voltar mais vezes. Desta forma, seria bom criar essas condições com a implantação de hotéis ou cafés kosher, por exemplo. São espaços que divulgariam a cultura judaica e que fariam com que os turistas desta religião se sentissem em casa.