Fonseca Ferreira, candidato à Federação do Partido Socialista da Guarda, contesta a constituição da Comissão Organizadora do Congresso, que diz ser formada apenas por «apoiantes e familiares» de José Albano Marques, atual presidente da Federação e seu adversário. E reitera que não irá candidatar-se à Câmara da Guarda, sublinhando que vem para ficar, na tentativa de contribuir para o aumento da credibilidade do PS no distrito.
P – Como está a decorrer a pré-campanha?
R – Já reclamei junto do Secretariado Nacional e do presidente da Federação pela revisão da constituição da Comissão Organizadora do Congresso (COC). É um órgão fundamental para que todo o processo eleitoral possa decorrer com transparência, verdade e de forma a que as duas candidaturas tenham as mesmas condições. Acontece que uma COC, que foi decidida e formada unilateralmente e que só tem apoiantes e mesmo familiares do meu adversário, não oferece independência. Isso é um absurdo. É uma tradição do PS que as COC’s sejam participadas pelas várias candidaturas e assim está a acontecer, nomeadamente, em Setúbal, Coimbra e Porto. A Guarda não pode ser um espaço de não-democracia.
P – Que diagnóstico faz do distrito a que regressa?
R – É um distrito com dificuldades, como o país e o mundo, mas é um distrito que tem recursos naturais, logísticos e humanos muito qualificados, mais concretamente no sector primário, que o país abandonou. A Guarda é privilegiada nesse sentido pelas culturas agropecuárias, tem excelentes recursos e eu tenho encontrado iniciativas inovadoras muito importantes. Se estas iniciativas tiverem apoios e se houver uma estratégia envolvente, são fatores bastante fortes. A parte logística é bastante importante, nomeadamente pela nossa localização, as vias rodoviárias e ferroviárias da Beira Alta e Beira Baixa, a articulação litoral-Espanha e a plataforma logística. Quando fiz o Plano Estratégico tinha a localização como algo de muito importante para a Guarda. A nível dos recursos humanos qualificados, que é o fator de desenvolvimento básico, e dado o sistema de ensino que existe tradicionalmente no distrito, com o Politécnico, as escolas profissionais, secundárias e o ensino privado, isso faz com que a juventude tenha graus de qualificação elevados e isso é um fator essencial para o desenvolvimento. Se por um lado há isto, porque é que o distrito não se tem desenvolvido mais? No meu entender, falta uma liderança e uma estratégia de desenvolvimento.
P – Essa liderança competirá a quem?
R – As lideranças são diversas, cabem aos partidos políticos, que têm um papel fundamental, governam o país e a federação da Guarda do PS, como os órgãos dos outros partidos equivalentes. Mas obviamente também as associações empresariais, os sistemas escolares, os chamados atores do desenvolvimento entre os quais os atores políticos.
P – Coordenou o Plano Estratégico da Guarda há cerca de 15 anos, o que mudou?
R – O país mudou bastante desde então. Na altura estávamos no início dos fundos comunitários, do alargamento dos quadros comunitários e entretanto tem havido melhorias, as acessibilidades, por exemplo, mudaram imenso. Na altura, um dos objetivos era concluir o IP2, nem era ter A23, e transformar o IP5 em autoestrada, dada a sua perigosidade era absolutamente necessário ter esse problema resolvido. Foi durante o Plano Estratégico, já no final, que se deu a modernização da linha da Beira Alta. Antes, demorávamos cinco horas para ir a Lisboa, agora são menos. As acessibilidades e a qualificação dos recursos humanos são os fatores que mais progrediram e que hoje são fatores decisivos para o desenvolvimento.
P – Estas eleições servem para o PS recuperar a credibilidade do PS no distrito?
R – Eu espero que sim, o meu contributo é nesse sentido.
P – Se perder, continuará a ter protagonismo político por cá? Como?
R – Será igual, ganhe ou perca. Por razões familiares, tenho que passar a vir mais vezes a Trancoso onde vou voltar à Assembleia Municipal – já me disponibilizei e integrarei as listas, em princípio. Em termos políticos, espero ganhar a presidência da Federação do PS e irei manter-me com uma participação ativa nesta região, na minha região.
P – Aceitaria ser candidato à Câmara da Guarda, por exemplo?
R – Não. Eu já disse muito claramente que não venho para ser deputado, nem para ser presidente da Câmara, apenas me disponibilizei à concelhia de Trancoso para voltar a concorrer à Assembleia Municipal, onde estive 12 anos, e que interrompi nos últimos três porque o partido achou que me devia candidatar à Câmara de Palmela. Aceitei essa missão, mas também não me vou recandidatar. Portanto, a única missão política que terei é a Assembleia Municipal de Trancoso.