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«A Coficab Portugal tem ajudado muito o grupo a crescer e tirado proveito para crescer também na Guarda»

João Cardoso, diretor-geral da Coficab Portugal

P – A Coficab lidera o ranking das 50 maiores empresas do distrito da Guarda em 2014, repetindo de resto o lugar do ano anterior, e aumentando a faturação comparativamente com o período homólogo. Quer comentar?

R – A Coficab como grupo continua num processo de expansão muito acelerado. Está previsto implementarmos no triénio 2015-2017 quatro novas unidades fabris e neste período queremos crescer o mesmo que nos últimos 12 anos. A Coficab Portugal, como lugar central do grupo, tem prestado suporte neste crescimento, não só com serviços mas com produtos. É procedimento usual que a Coficab Portugal entre como fornecedor de um novo negócio numa fase inicial e depois se proceda à localização do mesmo, caso a complexidade do produto seja relativamente baixa. Em conclusão, a Coficab Portugal tem ajudado muito o grupo a crescer e, neste processo, tem tirado proveito para crescer também na Guarda.

P – E 2016? Vai haver aumento de vendas em relação ao ano anterior?

R – Não é previsível um crescimento nas vendas para 2016, pois a localização de produtos nas novas unidades vai ser de direção contrária a esse caminho. Vamos tentar manter o nível deste ano, introduzindo novos produtos de complexidade maior (cabos para transmissão de dados a alta velocidade num automóvel em movimento) para compensar a perda de volume devido a transferência de negócios.

P – E em relação aos postos de trabalho? A Coficab fechou o ano de 2014 com 419 trabalhadores, e neste momento quantos tem?

R – Temos atualmente 430 trabalhadores e a perspetiva para 2016 é ficarmos por este nível.

P – Há margem de crescimento para a empresa na Guarda ou já atingiu o seu zénite?

R – Penso que será muito difícil continuar a crescer na Guarda. Para o produto que a Coficab fabrica a atual fábrica é já uma mega unidade. O desafio é conseguir manter o atual nível de produção nesta unidade industrial, lutando com competidores mais bem posicionados geograficamente que nós.

P – Que novos projetos conta lançar em 2016? E as perspetivas do negócio?

R – Temos três grandes projetos para a fábrica da Guarda. A grande aposta é iniciar atividades nos cabos para transmissão de dados, usados para suportar comunicações móveis, sistemas de GPS, sistemas de segurança ou de entretenimento. Com este projeto, a Coficab passa a ter um portfolio de produtos que cobre 100 por cento dos requerimentos num veículo atual. Temos ainda intenção de reforçar a nossa presença no negócio dos veículos pesados, que usam produtos com características muito especiais, mais exigentes do ponto de vista técnico e que se adaptam bem à atual estratégia para a fábrica da Guarda. São produtos orientados para um nicho de mercado muito próprio e que implicam um desenvolvimento quase exclusivo para cada projeto, aquilo que nós chamamos de “Tailored Design & Development”. A dificuldade/complexidade destes produtos estende-se também aos métodos e meios de fabrico, pelo que se adaptam muito bem ao “Product Range“ da Coficab Portugal. Outro projeto importante, em curso desde 2014 mas que passará a produção em série no fim de 2016, são os cabos de alta voltagem para uso em veículos híbridos e elétricos. Fomos recentemente nomeados como o fornecedor de cabos para os dois projetos mais importantes da Jaguar/Land Rover na área de veículos híbridos.

P – Há vantagens em estar na Guarda? Quais?

R – Infelizmente, para esta pergunta a resposta não é a que todos gostariam de ouvir nem a politicamente correta… Não existe nenhuma vantagem para as empresas se localizarem na Guarda, apenas inconvenientes. A descriminação positiva para empresas se situarem em regiões interiores de Portugal, agora politicamente chamadas de “alto potencial de desenvolvimento”, acabou há alguns anos e não conheço atualmente nenhum incentivo racional para que qualquer investidor opte em vir para a Guarda. Os motivos para que a Coficab (Shareholders e Management) continue a apostar na Guarda são mais da área emocional que racional. Mas os motivos emocionais não garantem a sustentabilidade de nenhum negócio a longo prazo no ambiente competitivo local. Durante a campanha eleitoral abordei com os candidatos dos dois principais partidos a reintrodução de uma taxa diferenciada de IRC (15%) para as empresas que se localizem no interior – eu prefiro continuar a chamar-lhe assim para que não existam ilusões. As respostas de ambos foram muito vagas, nada objetivas e a fugir ao tema. Conclusão: ou não há vontade ou não há Ideias. Basta ver quantas empresas interessantes se instalaram na nossa região nos últimos 10 anos: ZERO (devemos ser recordistas neste aspeto).

P – Quais são os maiores entraves à atividade da Coficab na Guarda?

R – Além da grande distância relativamente ao mercado alvo (que se deslocalizou massivamente para a Europa de leste e norte de África), é muito difícil captar pessoas com as competências técnicas adequadas para virem trabalhar para a Guarda. Nesse conjunto específico de pessoas que reúnem as capacidades/ conhecimentos que procuramos, normalmente 70% desistem quando sabem que o local de trabalho é na Guarda. As centenas de euros que todos os meses se gastam para visitar a família no fim-de-semana é um fator decisivo para essas desistências. Temos colaboradores que mensalmente gastam 500 euros só para deslocações aos fins-de-semana!!

P – A escassez de recursos humanos qualificados é um deles?

R – Sim, mas não apenas para empresas localizadas na Guarda. Tenho tido os mesmos comentários de empresários de outras regiões portuguesas. Um dos grandes problemas é como o ensino tem sido pensado nos últimos anos. Temos programas curriculares que afastam completamente os jovens das áreas técnicas e, quando chegam ao 10º ano, a escolha faz-se muitas vezes por um critério: fugir da Matemática! A abordagem dos últimos tempos, em que se confundiu rigor com dificuldade, em nada veio ajudar a inverter as coisas, só a agravar. Tenho dois filhos a estudar (de 8 e 12 anos) e fico surpreso ao ver que o mais novo estuda matérias de matemática no 3º ano que eu estudei no 5º ou no 6ª! Para quê?!! Com que objetivo prático? Era preferível estudar matérias adaptadas às capacidades mentais de uma criança de 8 anos e ser RIGOROSO na aprendizagem das mesmas. Então, no futuro, teríamos de certeza jovens com preparação mais de acordo com o que mercado de trabalho requer e não com um simples “canudo” para serem Doutores do desemprego, pois ninguém estará interessado nas suas competências.

P – A instalação do Centro Tecnológico veio fazer a diferença? Contribuiu para que o grupo valorizasse ainda mais esta fábrica?

R – Claro que sim. O Centro Técnico, que em 2016 se passa a chamar Centro de Excelência, veio dar-nos meios de trabalho que facilitam e aceleram muito tudo o que é pesquisa e inovação. A longo termo, vai ser a âncora que mantém a Coficab firme na Guarda, pois é o elemento diferenciador em relação às outras unidades do grupo.

P – A polémica da fraude das emissões por parte de alguns construtores de automóveis afetou, ou está a afetar, de algum modo as encomendas da Coficab?

R – O Grupo VW é um dos principais destinatários dos nossos produtos. A Coficab fornece 50% dos fios consumidos pelas marcas deste grupo (VW, Audi, Skoda e Seat). Assistimos neste momento a uma queda nas encomendas para este fabricante mas felizmente, no global, não somos afetados, pois a deslocalização dos clientes finais está a ser efetuada para outras marcas em que também temos uma presença muito importante – por vezes ainda maior que na VW.

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