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A ciência na última década

Mitocôndrias e Quasares

Quando se aproxima o final do ano vão surgindo nos diferentes órgãos de comunicação social listas com os momentos mais marcantes em diferentes áreas, que vão da sociedade à política, passando pelo desporto, pela cultura e também pela ciência. Estes balanços têm o condão de nos fazer refletir sobre o que aconteceu no último ano. Este zoom conjuntural de um intervalo de tempo num determinado campo do conhecimento, por vezes, limitam-nos na análise mais profunda, assente numa matriz estrutural, dos avanços que estão decorrer nessa área do conhecimento.

Abdicando de olhar para os acontecimentos científicos de 2015, vou recuar no tempo e enunciar alguns dos momentos mais marcantes da Ciências nos últimos 10 anos. A seleção é pessoal e intransmissível e resultam da sensibilidade científica adquirida ao longo da última década.

Inflamação: importância extrema

Na última década, surgiram alguns estudos que apontam para o processo inflamatório, essencial na reparação de tecidos, como responsável pelos mecanismos que despoletam doenças como Alzheimer ou Parkinson.

Metamaterais

A produção de materiais com propriedades diferentes das que podemos encontrar na Natureza, ganhou uma nova vida com o aparecimento dos metamateriais. Estes materiais, basicamente, trabalham direcionando a luz e outras ondas eletromagnéticas, conseguindo efeitos considerados impossíveis de forma natural, como por exemplo, criar a ilusão de invisibilidade de um objeto.

Descoberta de novos planetas

Observar o céu sempre foi uma das atividades que despertou mais interesse no ser humano, e nem sempre esta dedicação foi bem sucedida. Em 1600, Giordano Bruno foi queimado pela Inquisição ao prever a existência de outros planetas além da Terra. Uma das áreas com mais força dos últimos anos, é a descoberta de exoplanetas, planetas fora do Sistema Solar. Para se perceber o evolução desta área da astronomia deixo uma pequena comparação: Em 2000, número de planetas detetados – 29; em março de 2014 o valor era já de 1779 exoplanetas.

Será a maioria do nosso ADN lixo?

Esta foi a questão que, em março de 2015, o “New York Times” colocou como título de um texto sobre o ADN. Após a descodificação do genoma humano conclui-se que o homem possui 21.000 genes que se encontram em apenas 1,5% da cadeia helicoidal do ADN. Esta informação lançou logo uma nova questão: qual o papel que desempenham os restantes 98,5%? Nos últimos anos tem-se vindo a perceber que o restante ADN está envolvido na regulação do funcionamento de cada um dos 21 mil genes. Paralelamente, também se tem vindo a perceber que determinados fatores químicos podem influenciar o genoma por gerações, sem necessariamente mudar a sequência do DNA.

Matéria escura

Há largos anos que a quantidade de matéria que existe no universo tem intrigado os cientistas. Os dados teóricos não coincidem com os valores medidos experimentalmente, o que conduziu ao desenvolvimento de várias experiências que permitem avançar com possíveis explicações para esta discrepância. Dos resultados obtidos, na última década, ganhou força a teoria de que o universo é formado por três componentes: 4,56% são matéria, como a que constitui estrelas e planetas; 22,7% de matéria “negra”, cuja gravidade mantém a ligação entre as galáxias, e 72,8% de energia “negra”, que alonga o espaço e acelera a expansão do universo. Além disso, algumas técnicas permitiram chegar a resultados surpreendentes, como a constatação de que o Universo é plano.

Máquina do tempo

Conhecer o mundo dos nossos antepassados é uma tarefa bastante complicada uma vez que os materiais que chegam (quando chegam) sofrem da passagem dos anos, chegando até nós bastante contaminados. Acontece que foi descoberto que moléculas como o ADN e o colágeno podem resistir por milhares de anos. A descoberta permitiu isolar o colágeno de um tiranossauro de 68 milhões de anos. Em 2011, cientistas publicaram o genoma de um Neandertal com muito mais ADN do que havia sido possível sequenciar em 1997, mostrando que este tinha pele clara e cabelo ruivo. Já em 2005, duas equipas sequenciaram 27 mil bases do ADN de um urso antigo das cavernas.

Reprogramação celular

Os dogmas da biologia clássica foram abalados quando se obtiveram células-tronco pluripotentes a partir da reprogramação dos genes de uma célula adulta do sangue ou da pele, por exemplo. Esta ideia veio contrariar a ideia anterior na qual as células-tronco embrionárias têm a capacidade de se diferenciar em qualquer outra, mas as que já se diferenciaram, perdem esta capacidade.

Estas células reprogramadas têm sido testadas em portadores de doenças como Parkinson, esclerose lateral amiotrófica e até no autismo. No entanto, o objetivo principal é conseguir criar células, tecidos e órgãos para transplantes.

Ficou aqui evidente que, na última década, a Ciência tem conseguido trilhar um caminho que no início do século XXI parecia ainda muito distante.

Por: António Costa

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