A Guarda deveria promover no seu Centro Histórico uma transformação sem precedentes na história moderna da cidade. Importa pois, para além dos enquadramentos político-administrativos, trazer a público um debate aberto que permita a livre discussão de problemáticas, de ideias e de projetos, vindos dos mais diversos atores sociais. Um debate que seja promovido e participado pela sociedade civil e ao mesmo tempo produzir conhecimento reflexivo e disponibilizá-lo à comunidade.
Ao invés, o que se fez?! Numa espécie de “Dono Disto Tudo”, faz convites, alguns a profissionais que se repetem e que, julgo que apenas por amor à Guarda e respeito ao convite endereçado, voltam de novo a repensar a Guarda, profissionais competentes, com reconhecido mérito profissional voltam de novo a satisfazer o capricho do “embandeirar em festa” numa perspetiva de contrário… Não será mais assertivo lançar primeiro a discussão pública onde todos possam dar o seu contributo para depois os profissionais poderem alavancar as ideias ou propostas mais exequíveis para a cidade? Julgo ser mais sensato! Mas não, as gentes da Guarda não interessam, avançamos e já está! Nós, melhor, a cultura do “eu” é já intolerável e por essa razão, já em 2014 se repetiu com o mesmo disfarce!
Promover a reflexão e o debate em torno da participação cívica alargada, tendo como pressuposto as potenciais dinâmicas de regeneração urbana. Contribuir para a reflexão crítica acerca dos processos de desenvolvimento local, nomeadamente de ideias e projetos que contribuam para a retoma económica e a transição para novos paradigmas socioeconómicos, recordo o edifício devoluto do antigo Cine-Teatro no “coração” da cidade e a chamada “Casa do Roseiral”, são disso exemplos.
Mas recordar ainda toda a zona alta da cidade, o parque municipal, as piscinas municipais abandonadas e o parque de campismo, toda uma zona que conflui com o pulmão da cidade, o Parque da Saúde, para quando? Mesmo a correr já vão tarde. Aí sim, é o local da Festa… Mas dá muito trabalho, ou melhor demora algum tempo para se mostrar… Tanto, tanto para se fazer Sr. Presidente!!! Que pena não andar mais depressa.
É bem conhecida a preocupação por parte de proprietários de estabelecimentos comerciais relativamente à circulação automóvel no centro histórico e ao estacionamento, é certo que tem havido divergências de opinião latentes na comunidade. De um lado, aqueles que defendem a continuidade do tráfego automóvel no centro histórico, do outro quem pense que a pedonalização do centro histórico corresponde a uma melhoria da qualidade de vida e a uma convivência urbana mais eco-responsável. As pessoas é que contam, Nós – as gentes da Guarda já foram ouvidas!!! Deem espaço aos legítimos “Donos Disto Tudo” – as Gentes da Guarda.
É ainda importante refletir sobre o uso socialmente diverso dos espaços devolutos, designadamente os que podem originar oportunidades tais como: arrendamento habitacional; projetos no âmbito da economia social; espaços destinados a práticas artísticas, culturais e criativas emergentes; oficinas/loja de artesanato local; locais de ensaio para projetos musicais; acolhimento de novas associações ou grupos informais; projetos temporários… Imaginemos toda a envolvente da Praça Velha, “aquecida”, dinamizada pela cultura, aqui sim seria um espaço permanente de festa, teatro de rua, música, dança, pois teremos melhor espaço para as artes? Para a visibilidade de todos, e para os participantes informais que aqui se poderiam juntar… Teríamos o melhor “de dois mundos”. Uma abordagem de diferentes formas de ocupação artística e, por outro lado, elevando e integrando o aspeto social e arquitetónico do ex-libris da Nossa Cidade. Repare-se a Praça velha e o cenário da Sé Catedral, não pode servir para ser, de vez em quando, palco de festividades e vaidades! Isso é coisa pouca e fica muito caro, pois há palcos a terem custo de habitações!!!
Uma das condições fundamentais para a existência de uma boa cidade e bom centro histórico reside na diversidade e na mistura complexa que promovem a interação de públicos e usos diferentes.
Todos sabemos que a monotonia destrói a cidade, por isso as cidades devem ser geradoras de diversidade. O centro histórico poderá ser uma oportunidade a curto prazo para novos usos que não exijam grandes investimentos em requalificação (obras). Projetos “low-cost”, de baixo custo e elevada rentabilidade social.
É importante haver espaços de desenvolvimento experimental, de novas ideias, produtos criativos, artesanato, etc., para além do sistema de mercado cultural mais convencional, que já se vai fazendo.
É importante conhecer melhor para melhor preservar, sendo que neste âmbito, das memórias do centro histórico, trata-se essencialmente de preservar as memórias dos habitantes atuais. Umas das obras de referência no campo do património imaterial da Guarda é o madeiro de Natal na Sé, a “morte e enterro do Galo”, feira de São João… Festas, tradições, rituais, saberes, ofícios, etc. Sempre com o objetivo de salvaguardar e promover a memória coletiva.
Num outro eixo, devemos repensar de que modo o planeamento urbanístico pode contribuir para a revitalização da zona e da cidade? Que relações se pretendem estabelecer entre o edificado e as pessoas, entre os espaços e os projetos, em espaços que se pretendem cada vez mais vividos, mais participados e partilhados?
A verdade é que a Praça Velha está atualmente “morta” devido à falta de atividades e à existência de muitos imóveis devolutos, mas para haver vitalidade, quer do comércio local no centro histórico e dos fluxos regulares de pessoas, são precisas muitas razões para que muitas pessoas ali se desloquem.
Sr. Presidente, uma vez que aprecia tanto o festim faça da Praça Velha o verdadeiro Palco de todos os eventos, receba aqui quem vem de fora, apresente-se aqui à Cidade, deixe que se envolva verdadeiramente, torne os espaços públicos verdadeiros cenários de trabalho.
Por: Cláudia Teixeira
* Militante do CDS-PP
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