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A certeza dos políticos

A certeza dos políticos não é diferente – na melhor das hipóteses… – da de qualquer homem vulgar. Não, propriamente, do vulgar que se contenta com umas chocarrices e umas cigarradas no ambiente de fumo da taberna, antes do vulgar que frequentou a Universidade, arranjou um título, vive narcisado com o seu saber, veste cinzentamente caro, mas está muito longe de entender a exigência de interpelação do Tempo – e é neste essencial aspecto que o vulgar da taberna, o vulgar com uma licenciatura e o político são coincidentes.

A alquimia, para tal gente, é uma entelequia, uma metafísica…

Ninguém nasce ensinado, mas crer que a Universidade – e não a Vida e o porfiado desejo de saber – é que é o topo, assim, à… magister dixit, sem se dar conta da obrigação dos permanentes empenhamento, descoberta, perspicácia, humildade, assunção de verticalidade na racionalidade e – sobretudo – que há sempre alguns que por estarem no topo genuíno os identificam com tranquila, avantajada clareza, mas crerem-se no topo, dizia, logo os desmascara tal qual, nem que seja ao não identificarem a intangibilidade da religião dos nossos aldeãos. De facto, tais insignes intelectuais não concluem que tal religiosidade não aguça o… intelecto.

Mas desmascaram-se mais fragorosamente que um esbarrondamento ao escreverem não fundamentados em princípios como, v.g., o da identidade, parmenidiano e perene, isto é, o que é, é, e não pode ser e não ser, ao mesmo tempo, que em âmbito onde tal princípio é um apriorístico imperativo, afinal há…um pragmatismo que lhe é inerente.

Maquiavel acima de tudo, überalles?

De pretensos filósofos tornam-se, já se vê, claramente, em émulos de Pródico, o sofista que se gabava de “transformar a causa pior na causa melhor”.

Isto não dá vontade de rir – sequer de sorrir… – porque, afinal, nós, avassaladora maioria é que pagamos o que estes insignes “intelectuais” e os seus “compagnons de route” (companheiros de viagem; gostam de se exprimir com certos estrangeirismos) decidem. Se, ao longo da sua vida, nunca decidiram lucidamente por si próprios, como aceitarmos as suas garantias? Aliás, uma substancial percentagem ficou ofuscada com o marxismo, esse “ópio dos intelectuais”, como o designou Raymond Aron; e os seus democráticos sentimentos são os da “fé” absoluta nas virtualidades do pensamento laico e do laicismo.

Isto é: gente tão luminosa que nem sequer sabe donde vem, nem onde está – muito menos para onde vai, claro.

Como dizia o que foi meu Professor de Filosofia Antiga, impõe-se a “vigilância do amor”.

É claro que se amanham muito bem. E como são numerosos, felizes, democratas – sim, mas só até certo ponto… – servem-se mutuamente. Pena é que, em Epistemologia, quantidade e qualidade não sejam sinónimos.

Pelo facto de serem numerosos, de mutuamente se propiciarem mordomias e sinecuras, de não terem nenhuma preparação para a resolução dos problemas (veja-se a diatribe de Vasco Pulido Valente no Público, de 21 de Maio, contra as Ministras da Educação e da Cultura, nomeadamente), o resultado da sua acção é o esbanjamento e a subsequente ruína da Grei. O nosso País está impreparado para defrontar o Futuro e o embuste – outra das suas intrínsecas características identitárias – , que não tiveram nem têm, aptidão para identificar – no qual se refastelam – é o que deixarão como herança.

Por: J. A. Alves Ambrósio

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