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A casa do cavalo

A casa do cavalo branco fica ali junto ao Luso. Há uma casa velha, uma arcada, um cavalo que dorme debaixo dela e um terreno imenso que lhe pertence. Falta a família da casa, falta o trabalho que a regenera, falta a força dos amanhos, a beleza das pinturas, a serenidade dos vidros inteiros, e sobra o cavalo, mais dentro que o previsto. A casa velha arruinada, o terreno despenteado, o cavalo velho no porte de sempre. Olha para a estrada, debaixo da arcada, não se move, espera. O cavalo aguarda a menina que o não montou mais, o tratador e a escova áspera, o passeio a trote, mas não se move porque interiorizou que não chegam mais. Tem a comida e a água. Tem a casa deles para ele. A casa do cavalo branco tem tudo para ser o lugar de um romance, tudo para ser a porta de uma história, tudo para a intriga. Foi morte que os levou? Foi despesa não paga? Foi amante que ceifou? Foi traição que lacerou? O cavalo sente a solidão mas desconhece o enredo. A família não vem, a casa envelhece e descora, o lavrador entrega a palha e verte a água. Ele passeia pela casa entre as mesas e cadeiras, imagina que comem à mesa, vagueia pelo quarto e o banho. A casa é do cavalo agora.

Por: Diogo Cabrita

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