Antes de existir o atual Liceu, uma grande Mata ocupava o seu terreno, alargando-se desde o Castelo até aos limites do Parque da Saúde, passando pelo Estádio Municipal, pelo Pavilhão do Inatel, pelo Parque Municipal, e até pelo IPJ. Era a Mata da Guarda; uma espécie de “Parque Selvagem”, como a descreve o Dr. Agostinho Martins, em tempos o Presidente do Conselho Diretivo da nossa escola. Não se sabe bem a data da sua formação, mas as primeiras memórias do Dr. Agostinho Martins datam dos anos 30, e, assegura ele, “ela já existia muito antes”.
Esta Mata era muito querida da população: com caminhos pedestres e bancos de jardim que a atravessavam, fazia as delícias de miúdos e graúdos que por lá passeavam e brincavam. Era também um símbolo de um tempo de qualidade passado em família – na segunda-feira de Páscoa o comércio fechava, as famílias arranjavam as suas merendas, e iam para a Mata fazer piqueniques.
Para além disto, era também nela que se realizavam as touradas da região, num redondelo próprio para o efeito, era aí que se celebravam os concertos de verão num pequeno coreto, que se batizavam os caloiros num tanque, e para onde as crianças fugiam durante as manifestações. Era, no fundo, o refúgio da comunidade.
Contudo, a grande peculiaridade desta Mata era a casa que albergava – uma casa modesta por dentro, mas soberba por fora, com os seus recortes acastelados e a sua imponência de palacete sobrevivente ao passar dos anos. Nela vivia o Guarda da Mata com a sua mulher e os seus três filhos. Era ele quem tratava da Mata, quem a mantinha saudável e limpa para que toda a população dela pudesse desfrutar. Mas não se pense que era ele o único a ajudar a população – também a sua filha, que mais tarde trabalhou no Liceu como Auxiliar de Ação Educativa, e que faleceu no passado mês de dezembro, contribuía: era ela quem muitas vezes orientava os doentes que vinham de fora para tratar a tuberculose.
Foi, assim, com muito pesar, que os habitantes da nossa cidade presenciaram a destruição da Mata, a 15 de fevereiro de 1941, devido à passagem de um ciclone que atingiu todo o país. Mas foi ainda com maior tristeza e constrangimento que assistiram ao desaparecimento da Casa, que tinha ficado de pé, para que a construção do novo Liceu Nacional tivesse início. Entretanto, já se tinham construído o Estádio e o Parque, mas a população mantinha viva a esperança de ver a Mata recomposta.
Com o passar do tempo, todos se foram habituando à nova escola, e ficando até contentes com o progresso que ela proporcionou à cidade. Ainda assim, a Mata e o seu “Palacete” ficaram sempre nas suas memórias mais queridas.
Ana Lurdes Logrado (11º A)