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A capitalidade cultural

Editorial

A candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura 2027 é um «desafio» e uma «oportunidade». Um desafio porque a dimensão de uma candidatura a Capital Cultural eleva a cidade a um patamar de grande excecionalidade e, através da cultura, imprime uma metamorfose e a transformação da urbe; uma oportunidade porque implica dinâmicas, projetos e ideias que vão muito para além da própria capitalidade cultural, determinam mutações socias e contribuem decisivamente para a promoção do desenvolvimento socioeconómico. E o bem-estar dos cidadãos – que poderão fruir da programação exigente e vivenciar as dinâmicas inerente ao processo e porque a cultura é suporte do desenvolvimento sustentável. A vitalidade que o processo de candidatura a Capital Europeia da Cultura pode imprimir na cidade determinarão a Guarda de amanhã.

Até 2021 serão conhecidas as diversas candidaturas. A escolha final deverá assentar em critérios subjetivos, mas facilmente percetíveis. A «dimensão europeia» é um dos vetores de seleção e, porventura, um dos argumentos mais relevantes da candidatura: A Guarda é uma pequena cidade, mas uma cidade aberta, «transfronteiriça» e virada para a Europa, pela sua proximidade geográfica, mas também pelas suas relações com o exterior, inclusive por ser um distrito de intensa emigração, em especial para a Europa. A vida cultural da cidade e a sua identidade, os seus equipamentos, o património construído, a tradição e a história deverão ser outros predicados a considerar, mas em qualquer dos cenários, para além do enorme esforço que implica uma candidatura com estas características (a dez anos), a capacidade mobilizadora dos guardenses, da região e de agregação junto de outras cidades que possam ser parte do processo serão determinantes.

A candidatura está ainda na sua fase inicial e ainda não foi assumida (adotada) pela cidade – terá de ser convenientemente divulgada, essencialmente na Guarda e na região –, as pessoas ainda não interpretaram a sua relevância, a sua dimensão e o seu impacto. Até à putativa escolha, será um caminho difícil, que terá de ser feito por muita gente, com outras cidades e com muito entusiasmo, profissionalismo e dinheiro, cujo desenlace pode nem ser o da designação de Capital Europeia, mas o caminho, per si, marcará a Guarda dos próximos anos. O sucesso desse caminho passará por todos os que são parte do processo, o atual presidente da Câmara e o seu executivo, bem como os seguintes, os integrantes da “comissão” investida, as instituições da cidade e os cidadãos que terão de ser envolvidos. Neste contexto, o jornal O INTERIOR estará, como sempre, ao lado das boas ideias e dos projetos relevantes para o futuro da Guarda e da região, como o é o da candidatura a Capital Europeia da Cultura – e, desde já, não podemos deixar de registar que entre os integrantes da “comissão” estão alguns colaboradores ou antigos colaboradores de O INTERIOR como André Barata, João Mendes Rosa ou Victor Afonso, e um ex-jornalista deste jornal, o vereador da Cultura Victor Amaral. E lamentar que a autarquia tenha excluído, pelo menos para já, o mais proeminente criador e animador cultural da Guarda: Américo Rodrigues.

Muito para além do sucesso imediato do processo de seleção, a capitalidade será uma conquista por aquilo que possa transformar, renovar e desenvolver. A Cultura é a mais importante forma de desenvolvimento da sociedade e é, indiscutivelmente, o suporte, a base, das grandes mutações sociais.

Luis Baptista-Martins

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