As capeias “arraianas” são uma das maiores tradições da região que atraem milhares de aficionados todos os anos. Na véspera do arranque de mais um ciclo, o presidente da Câmara do Sabugal, António Robalo, falou a O INTERIOR sobre este ciclo taurino que começa hoje na Lageosa da Raia e termina em Aldeia Velha no dia 25.
P- Qual é a importância das festas de tradição no concelho de Sabugal?
R- Estamos num tempo em que sentimos que as pessoas, quer por dificuldades económicas, quer por outras razões, começam a deixar as suas raízes para segundo plano. É muito importante manter uma ligação com os sabugalenses espalhados por todo o mundo e que nesta altura se deslocam ao concelho. Vêm cá para visitar a família, mas também para obter vivências e voltarem, de certa forma, às suas raízes. O fenómeno da capeia cria essa ligação com o concelho e a terra.
P- As relações com os emigrantes acontecem aqui e em todas as comunidades onde há emigrantes, por todo o país, mas aqui existe, de facto, esse fenómeno. Há uma empatia diferente que se instala nas novas gerações. Como explica isso?
R- Não estamos a falar de festividades como temos em todo o país, nem de tradições que vão acontecendo em todo o lado, com pequenas nuances mas similares. Esta é uma tradição genuína deste território, que faz ferver o interior das pessoas, não só pelo risco que tem mas também pela nota de atratividade, penso que é por aí. Por um lado, as pessoas sentem que este é um elo de ligação à terra, às suas origens, mas também os faz ter vivências diferentes de outras que acontecem durante o ano. É evidente que quando os sentidos se elevam ao máximo é quando as experiências são marcantes, e a capeia é especial para quem a vive e para quem já a viveu. Eu acredito que a população gosta de vir à sua terra e de assistir à sua capeia. É também um fenómeno que, acompanhado e apoiado pelo município em termos de promoção, é genuinamente popular e emana organização do interior das aldeias e das populações.
P- De que forma o município de Sabugal consegue ou pode capitalizar ainda mais as capeias de forma a atrair mais turistas e mais pessoas que, não sendo originárias da região, também possam desfrutar desta tradição?
R- Relativamente ao contexto atual da capeia, a lotação das praças está sempre esgotada e o facto é que não temos capacidade para receber mais gente para ver o acontecimento em si, uma vez que não é apenas o que está a acontecer dentro de um espaço restrito, é tudo o que ocorre à sua volta. Fora da praça é possível acolher todos aqueles que vêm, mas a garantia de visualizar o touro e os elementos que estão na praça não pode ser dada. Nesta são colocados elementos que originam uma barreira, criando uma praça fechada, onde antigamente havia carros de bois, tratores e estruturas improvisadas. Hoje, também com a colaboração da Câmara Municipal e no sentido de conceber segurança e dar algum conforto a quem assiste, já se vão fazendo praças que se montam e desmontam para a ocasião.
P- Quais os principais motivos para atrair visitantes ao Sabugal nestes dias? Existem as capeias, e o que mais há?
R- São as capeias e as festividades religiosas, como disse, por vezes semelhantes a outras. E ainda os compromissos que cada um tem com as suas origens, com as suas aldeias, família e amigos. Portanto, é um conjunto de experiências em termos de visita e património que se podem ter. Ano após ano tentamos criar mais possibilidades de vivências e vamos sempre acrescentando algo. Penso que é positivo usarmos os nossos produtos, a nossa gastronomia e os nossos espaços de alojamento que se vão qualificando. Temos um conjunto de boas respostas em termos de turismo rural. Possuímos também uma unidade hoteleira recente, junto ao balneário termal do Cró.
P – Voltando um pouco atrás, já foi publicado o despacho, há quatro anos, no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, mas havia também a pretensão ou um certo desejo de candidatar as Capeias a Património da Humanidade. O que falta, como está essa ideia?
R- Não se desenvolveu nada de especial relativamente a esse assunto. Nesta fase é uma utopia trabalhar um processo desses. Já foi muito difícil a Câmara Municipal conseguir colocar a capeia “arraiana” no Instituto dos Museus e da Conservação e conseguir pô-la também num patamar de Património Cultural Imaterial Nacional. Falámos da eventual candidatura a classificação de Património da Humanidade da UNESCO, mas não é algo que ocupe muito do meu sono, é uma utopia. É sempre bom sermos ambiciosos, mas temos de o ser na justa medida das nossas possibilidades e na nossa condição.