P – Está completamente afastado dos Bombeiros? O que vai fazer agora?
R – Estou afastado dos Bombeiros e neste momento dedico-me só à minha actividade profissional, que me permite continuar a lidar com eles, embora seja mais ao nível dos elementos de comando. Sou coordenador do serviço municipal da Protecção Civil de Trancoso e em termos da organização e da coordenação das diversas actividades em que está envolvida, essa função, felizmente, possibilita-me uma série de contactos, principalmente com comandantes de Bombeiros.
P – Qual o significado que teve a atribuição do crachá de ouro por parte da Liga dos Bombeiros Portugueses?
R – Para mim foi uma surpresa. É algo de que me orgulho, embora para mim sejam muito mais importantes todas as experiências que vivi e o relacionamento que mantive ao longo deste tempo todo que estive nos Bombeiros com um vasto número de pessoas. Isso é mais importante que ter uma medalha de ouro ou outra coisa qualquer. O crachá é atribuído quando se reconhece que há empenhamento e dedicação, mas eu nunca trabalhei nos Bombeiros à espera de um crachá, sou a mesma pessoa.
P – Sente que o seu trabalho como comandante nos Bombeiros de Trancoso e de Vila Franca das Naves foi recompensado?
R – Sim. Isso deixa-me imensamente contente, mas aquilo que sempre me deixou mais satisfeito era o reconhecimento dos meus bombeiros. Eu nunca fiz mais nos bombeiros do que liderar um grupo de homens e mulheres que eu tinha o privilégio de comandar. Nunca fui um chefe, tive sempre a preocupação de ser um líder e nesse sentido, era tudo feito através de um diálogo entre todos.
P – Os bombeiros de Vila Franca ficam bem entregues?
R – Eu penso que os bombeiros de Vila Franca têm todas as condições. O corpo de bombeiros está disciplinado, organizado e coeso. Agora, a nomeação do comandante é da responsabilidade da direcção da associação e acredito que farão uma escolha de alguém com capacidade para continuar e melhorar o trabalho efectuado.
P – Tem pena do novo quartel não ter sido edificado durante o seu mandato?
R – Muito francamente, não. Ao longo destes quatro anos o comandante e o corpo de bombeiros fizeram o que tinham a fazer. É bom recordar que em 2007 o processo do quartel estava completamente parado e estava toda a gente adormecida em relação à sua construção. Foi no Verão de 2007 que o corpo de bombeiros lançou a campanha “nós também merecemos um quartel”. Colocaram-se faixas em todos os veículos, nós utilizámos t-shirts com o slogan e fomos espalhando e-mail’s com imagens da situação do quartel. Em Agosto desse ano a Governadora Civil visitou as instalações e concluiu que é quase impossível um corpo de bombeiros trabalhar e viver naquelas situações. Foi a partir daí que o processo se desenvolveu. A fase de construção está a iniciar-se e para mim o mais importante não é quem inaugura o quartel, mas que ele esteja pronto para que os bombeiros possam usufruir de melhores condições.
P – O que mudou no sector dos Bombeiros desde que abraçou esta causa?
R – Mudou muita coisa. Mudou essencialmente a legislação. Mas apesar dessa mudança, eu considero que os bombeiros ainda hoje estão numa encruzilhada. Quanto mais tempo as entidades competentes continuarem a ter como principal ponto de discussão a existência ou não de voluntariado, os bombeiros não vão ganhar nada com isso. A realidade é que em todas as associações e corpos de bombeiros do país já há profissionais, e para se poder aumentar a capacidade de resposta foi necessário ter em permanência profissionais nos corpos de bombeiros. Hoje há, também, uma maior preocupação por parte dos cidadãos relativamente aos seus bens, sendo que a capacidade de resposta dos bombeiros tem que ser cada vez maior.